Ontem eu disse que voltaria para falar da “expectativa do parto – impressões, certezas e a convivência com o imponderável”. Portanto, para começar, acho que vale dizer o quanto me causa estranheza em nossa sociedade o fato de que a maioria das mulheres abriu mão da autonomia e da confiança em seu próprio corpo, depositando voluntariamente em terceiros responsabilidades por decisões absolutamente pessoais e intransferíveis.
Digo isso, pois a regra nos dias de hoje é encarar o final da gestação como um verdadeiro martírio. Reclamar de dores, incômodos, cansaço. Tem isso? Tem. Mas é ao mesmo tempo um momento tão incrível, que me impressiona as mulheres não aproveitarem esse processo transformador. Reclamam e se convencem de que não é preciso passar por tal “tormento”. Agendam suas cirurgias eletivas, sem pestanejar e sem nem ao menos conhecer as possíveis consequencias dessa decisão.
E é aqui que eu chego ao ponto da tal “convivência com o imponderável”. Porque esperar pelo nascimento natural de um bebê é uma lição fundamental sobre a nossa incapacidade de controlar os acontecimentos de vida. E que lição!! É assustador, mas ao mesmo tempo fascinante se entregar, deixar que tudo aconteça no ritmo ditado pelo universo, pelas nossas escolhas intelectuais e espirituais e pelas escolhas dos nossos filhos.
Afinal, se alguém passa pela experiência da maternidade sem descobrir essas nuances, talvez não tenha compreendido muito bem essa função/ missão. Aí, neste caso, não se “tem filhos”, se “procria”. E segue-se na toada inconsciente da preservação da espécie. Você pode questionar: e há evolução nesse processo? Claro que sim. Mas é compulsória. Para mim, o mérito está na busca CONSCIENTE pelo caminho a percorrer. E nesse processo a escolha pela não interferência no momento do nascimento de seu filho é um ponto de partida importante e, acima de tudo, a primeira e grande oportunidade de aprendizado evolutivo que a maternidade pode te proporcionar.
Dito isso, vale registrar que essa escolha tem um preço – muito alto no Brasil. Que começa pela necessidade de não aceitar as informações hegemônicas e isso é um tanto inerente à personalidade de cada um. Para mim foi fácil. Eu não me contento mesmo com os “pacotes fechados”. Quero sempre saber de onde eles vêm e, especialmente, por quem foram embalados. E isso aconteceu naturalmente em minha vida, nas escolhas ideológicas, espirituais, no pensamento político, nas opções afetivas, na forma de ver e levar a vida.
O caminho “mais fácil”, aquele que não exige reflexão, ponderação, análises e informações não basta para mim. Eu quero sempre mais. Nem que seja para errar, mas para errar com gosto, com vontade, sem chance de delegar a outros o peso das minhas frustrações. Isso é tão difícil, mas é tão bom! Recomendo uma dose diária para quem quiser provar.
Assim, diante da minha incapacidade de executar algumas ações “em piloto automático”, cheguei às escolhas que me trouxeram até o dia de hoje, com a certeza de que: estou cercada de informações e dados suficientes para buscar o meu caminho; amparada por profissionais competentes e AMOROSOS, que foram e serão sempre essenciais nesse processo; e certa de que, tenha o desfecho que tiver, estarei plenamente satisfeita e feliz.
É preciso mais? Não para mim.
OBS: O calor e o tempo seco estão de matar!!! Tenho buscado me hidratar bastante e manter o nariz umedecido – para evitar complicações da rinite. Mas o bicho tá pegando. Com isso, a poluição paulistana faz seus estragos e sofro desde já pelas futuras gerações. As BH (contrações de Baxtron Hicks) estão cada dia mais frequentes e longas.
Ah! Hoje redigi o meu Plano de Parto. Quer dizer, registrei alguns desejos e orientações para a hora H, ou hora P, como dizem. Estou contente por não precisar mencionar intervenções indesejadas e procedimentos desnecessários. É tão bom estar segura das minhas escolhas, começando pela equipe LINDA que vai estar ao meu lado, e poder confiar, sabendo que a mim só restará a entrega, em mente e coração.
Neste sentido, deixo abaixo uma frase incrível da parteira Ana Cristina Duarte, que tenho mentalizado como um mantra:
"O parto acontece dentro da cabeça e dentro do coração. Da cintura pra baixo, esse processo é natural. Apenas haverá impedimento, se a minha cabeça ou o meu coração não permitir".