26 de outubro de 2011

Humanizado ou não? Eis a questão.

Na semana passada foi publicada uma matéria sobre “Parto Humanizado” no portal do canal GNT. Sob o título “Parto humanizado não é, necessariamente, natural. Entenda.”, a reportagem circulou por listas de mães e chegou também na página do Twitter da Netfraldas. Logo que vi, mandei mensagem desaconselhando a leitura do texto e prometi falar do assunto por aqui.

Desaconselhei por entender que a matéria só acertou no título, afinal parto humanizado não é sinônimo de parto natural mesmo. Entretanto, o texto apresenta inúmeros problemas, que vão desde o conceito de humanização até informações erradas sobre o trabalho de doulas, o papel das parteiras, os procedimentos adotados em partos domiciliares… enfim! Muita abobrinha!

É legal dizer que a ampliação do debate sobre a questão do atendimento ao parto é muito importante. Porém o que temos visto, com grande frequência, é muita desinformação, confusão e falta de foco na abordagem do assunto, principalmente nas opiniões de “especialistas”.

Talvez isso se explique pelo fato de vivermos nos dias de hoje uma patrulha ideológica muito grande. A praga do politicamente correto, que poderia incentivar melhores práticas sociais, parece que, ao contrário, só tem estimulado a hipocrisia generalizada, além da multiplicação de informações incorretas, deturpadas e a utilização inapropriada de determinados conceitos. Como, por exemplo, o conceito de humanização.

O que quero dizer com isso? Quero dizer que ser “humanizado” está na moda e ninguém dirá que não é a favor disso. Contudo, esse conceito, especialmente no atendimento ao parto, é muito mais amplo do que se tem propagado por aí. O que entendo por atendimento humanizado ao parto é devolver à mulher o seu protagonismo, o seu direito de colocar seus filhos no mundo, de parir, de ser dona de suas escolhas na gestação, parto e pós-parto.

Assim, uma equipe humanizada é aquela que enxerga o ser humano da maneira completa e complexa que é, com suas limitações e infinitas possibilidades, e que, numa relação concreta de confiança, dual, estabelece ali uma parceria para se chegar ao melhor desfecho possível. Isso pressupõe respeito, acima de tudo. Um atendimento humanizado é aquele que apoia, informa, acolhe, mas que jamais furta da mulher seu papel primordial no nascimento de um filho.

Portanto, parto humanizado de fato não é necessariamente natural. Ele se propõe apenas a ser o melhor possível para a mãe e o bebê. Ou seja, prioriza o parto normal, por ser a melhor e mais segura forma de nascimento, com intervenções mínimas ou exclusivamente necessárias. E isso, acredite, faz TODA a diferença. Outra característica primordial do parto humanizado é sua relação direta com as diretrizes preconizadas pela Organização Mundial da Saúde – que condena, por exemplo, a episiotomia de rotina, entre outras questões muito importantes.

Há que se esclarecer que ao mencionar a questão do parto domiciliar o especialista da referida reportagem afirma que um médico “tem mais condições de resolver complicações do que uma doula”. Ora, isso nunca foi questionado. Uma doula JAMAIS substitui ou atua como médico ou mesmo como parteira. O papel dela é completamente outro. A doula acompanha a mulher durante o trabalho de parto exclusivamente para dar-lhe apoio emocional e auxílio na busca do alívio da dor com a utilização de métodos naturais (como bola de pilates, massagens, banhos, posturas etc.).

Por final, minha crítica como jornalista. Não espere uma avaliação perfeita de um cardiologista sobre uma cirurgia de joelho. Torço para que da próxima vez que alguém escrever sobre parto humanizado procure profissionais que realmente saibam o que isso significa e, preferencialmente, façam desse conceito a essência do seu trabalho.

E para nós leitores indico: senso crítico, sem moderação!

(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 26/10/2011)

12 de outubro de 2011

O melhor presente é você

Toda criança tem o direito de brincar, se divertir, explorar a imaginação. Aliás curtir a infância, inventar, desenhar, pintar e fantasiar são delícias dessa idade que, quando bem aproveitadas, deixam saudades sem fim! No “Dia das Crianças”, os pequenos ganham, então, o direito a novos brinquedos, presentes e agrados. Quando eu era pequena, esperava com ansiedade esse dia, pois sabia que minha mãe e meu pai teriam algo especial para mim.

Hoje, entretanto, assim como em diversas outras questões, tenho a impressão de essa é mais uma convenção que se banalizou. E extrapolou todos os limites do consumo razoável.
As lojas de brinquedos estão abarrotadas, as crianças elétricas, meio desnorteadas em meio a tantas opções, todas em geral caras. E o mais interessante é que, de modo geral, aquele desejo incontrolável por um brinquedo, dissipa-se em poucos dias, quando ficam encostados e sem uso.
Sou defensora do consumo consciente (embora ainda tenha que melhorar e muito) e, principalmente, da resistência a viver a vida no piloto automático (em que pese seja, aparentemente, muito mais fácil). Acho que isso não é uma opção, é uma condição. Quem é assim não escolhe ser assim, é e pronto. (Filosofei agora! Hehehe…)

Bom, mas voltando à vaca fria (porque será que se dizemos isso???), o Dia das Crianças tornou-se mais uma convenção social em que todos os adultos DEVEM presentear filhos, sobrinhos, amiguinhos etc. Acho isso muito ruim por vários aspectos. Primeiro porque as crianças hoje em dia têm uma quantidade exagerada de brinquedos, e por sua vez não dão valor a eles. E quando digo valor, não estou me referindo ao preço das coisas, mas sim ao afeto, à relação de carinho e cuidado que a gente aprende a ter pelas nossas coisas.
Acho que esse é um aprendizado muito importante. Cuidar do que é seu e gostar das suas coisas. E, por favor, nem preciso dizer que coisas são coisas e não substituem pessoas e sentimentos… mas fazem, sim, parte da vida!

Além disso, a banalização do Dia das Crianças cria uma euforia fora de propósito nos pequenos, estimula o consumismo, multiplica o lixo e polui mentes e meio ambiente. É bom afirmar que não tenho absolutamente nada contra o dia das crianças, se usado com moderação, sabe?
Por isso, acho que temos maneiras muito mais legais e criativas de viver esse dia. Com passeios, brincadeiras criativas, refeições em família, muito amor e carinho. Porque é disso que as crianças precisam!!!

Assim, nosso dia das crianças será de diversão juntos, com direito a contar muitas histórias, passear, se sujar e ganhar muitos beijos e abracinhos da mamãe e do papai. Porque acredito em outras formas, que não meramente materiais, de demonstrar amor: como o afeto e a presença!!! Estar perto de seu filho, sobrinho, vizinho, amiguinho vale mais que mil brinquedos. O melhor presente é você!!!

(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 12/10/2011)