21 de dezembro de 2011

O Natal pode ser ainda mais feliz

De maneira geral, chegamos nessa época do ano um tanto enlouquecidos. É uma correria danada. É um tal de comprar presentes, fazer mercado, ir à feira, terminar alguns trabalhos correndo, resolver pendências, pagar contas, fazer mais um pouquinho de compras. Ah! Pintar cabelo, fazer as unhas, depilação, lembrar de um presentinho de última hora. Embrulhar tudo, escrever cartão (tem ano que nem pra isso dá tempo). Festa da firma, amigo-secreto, mensagens a parceiros e fornecedores. Ufa! De repente, ceiamos e acabou. Quase não sobra tempo e disposição para o tal espírito de Natal, né?!
Só de escrever essa listinha de afazeres eu já fiquei cansada e um tanto estressada (pensando nas minhas pendências). Poxa, vida! Justo eu que sempre adorei essa época do ano. É… depois que a gente “vira gente grande” parece que tudo perde um pouco a cor e a graça. As obrigações se sobrepõem à fantasia. Fica chato.

Mas, ora bolas, será que tem que ser assim mesmo? Acho que não! Ok. Há algumas questões que a gente não pode pular. Mas dá, sim, para tornar essa época do ano muito mais significativa. E, se você tem filhos pequenos, é ainda mais gostoso e… possível!

Lembrei-me de algumas coisinhas legais que podemos fazer, juntamente com as crianças, que prometem recriar uma atmosfera especial para essa época do ano:

Primeiro de tudo: montar a árvore de Natal. Não importa se seus filhos são muito pequenos (bebês ainda). Eles vão adorar. Ano passado a minha princesinha tinha apenas 3 meses no Natal e mesmo assim curtiu as luzinhas, os enfeites. Falando em enfeites, outra coisa bacana é fazê-los com as crianças. Pode ser de origami (já decorei uma vez uma árvore de Natal só com dobraduras e ficou linda). Dá pra achar o passo-a-passo na internet e ainda inventar moda! Pode ser também com laços, pirulitos, bombons, brinquedinhos e o que mais der na telha!

Fazer os cartões de Natal com os pequenos também dá um charme todo especial à sua mensagem. Além de emocionar de verdade! Ano passado, nossos cartões foram feitos com uma foto da minha filha no colo do Papai Noel (tiramos no shopping). Imprimi várias, recortei o papel cartão vermelho e dobrei ao meio. Fiz uns furinhos em formato de estrela, algumas “palavras bonitas” e, voilá, um lindo cartão-quase-presente!

Hoje aproveitei também para separar brinquedos para doar. A gente vai acumulando as coisas e, quando vemos, eles nem brincam mais com alguns, que ainda estão novinhos!! Por isso, já temos aqui um sacolão para entregar num local de nossa confiança. O que você pode fazer é pedir ajuda das crianças para separar alguns brinquedos ou comprar novos para presentear aos pequenos que precisam – como ajudantes de Papai Noel, já pensou?

Natal também é época de cozinhar coisas gostosas e transformar esses momentos em preciosos registros de memória olfativa e gustativa – que nunca serão esquecidos!! Uma boa pedida com as crianças é fazer biscoitos, doces e guloseimas para a ceia. Os menores podem beliscar uma frutinha enquanto a mamãe prepara os quitutes (nada de açúcar pros baixinhos, ok?). Já os maiorzinhos podem e devem colocar a mão na massa. Não se esqueça, o que importa aqui não é o resultado da experiência gastronômica, nem a possível (pra não dizer provável) sujeira. O que importa é a alquimia da culinária compartilhada em família!

Ah! Ler histórias sobre o Natal e o seu significado também é muito massa! E eu não estou falando apenas de Papai Noel, Polo Norte e renas, tá? Estou falando de livros e histórias que contem sobre a mensagem de AMOR que Jesus Cristo trouxe para nós e que é a verdadeira razão do Natal. Vale para nós nos lembrarmos disso também!!

Por fim, uma das minhas sugestões preferidas: cantar canções de Natal!! Ai, que delícia!! Uma linda, criativa e divertida forma de ensinar aos nossos filhos belas histórias e, como num mantra, vibrar muita alegria, amor, paz e compaixão!

A minha canção de Natal preferida é em ritmo de baião:

“Natal no Brasil não tem neve e nem Noel.
O nosso Noel é o Rosa e mora lá no céu.
Natal no Brasil faz calor e o Sol brilha no céu.
Natal no Brasil só tem chuva de papel…”

Um beijo carinhoso e feliz Natal!!!

(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 21/12/2011)

7 de dezembro de 2011

Ôlelê, ôlalá, as férias vêm aí e o bicho vai pegar!

Dezembro chegou, o trânsito já piorou e as férias das crianças, se não começaram, estão aí! Pra quem tem bebê pequeno (como no meu caso), que ainda não vai pra escola, é férias todo dia … pra eles, é claro!! Rsrs… Já para os maiores, inicia-se o tempo de ficar em casa, brincar (às vezes, brigar) com o irmão e enlouquecer os pais! Hehehe…

Agora, não tem nada MELHOR na vida do que ser criança e estar de férias, certo? Fase da vida que passa voando e a gente fica pra sempre com saudades! Pena que nos dias de hoje as crianças, especialmente aquelas criadas nas grandes capitais do País, ficam muito confinadas. Presas em apartamentos, em frente à televisão, computador etc.
Como era gostoso ficar descalço o dia todo, brincando ao ar livre, tomando sorvete, correndo na praia, curtindo a casa da vovó, da titia, dos primos, dos amiguinhos. Atividades comuns nas férias da criançada da minha geração. Talvez a última que deve essas possibilidades mesmo nas grandes cidades.

Mas isso também não quer dizer que não tenhamos ótimas opções atualmente. São diferentes, por vezes mais trabalhosas ou caras, mas existem. Em São Paulo, por exemplo, uma boa opção é levar os pequenos em praças e parques. Eu recomendo demais o Jardim Botânico, que é super lindo, tem um restaurante muito gostoso e nunca está muito cheio. É perfeito para um piquenique, por exemplo. Lá também não é permitida a entrada de animais nem bicicletas, o que torna o local mais seguro e tranquilo para as crianças menores. Para saber mais: Jardim Botânico de São Paulo

As peças de teatro também são ótimas alternativas. Nos teatros das unidades do SESC, por exemplo, há todo final de semana diversas apresentações, em geral gratuitas. Além de contação de histórias e outras atividades. A programação você também pode conferir no site do Sesc

Outra ideia muito bacana é levar a criançada ao cinema. Nessa época do ano sempre têm lançamentos infantis, coisas boas, coisas mais ou menos, mas o que importa de verdade é o passeio, certo? Sair de casa, todos animados, comer pipoca, ter o tempo e a atenção dos pais só para os pequenos! Por isso, a recomendação: desligue o celular ou pelo menos não acesse e-mails ou redes sociais (entre na minha campanha: xô, smartphone!!).

Falando em cinema, no último final de semana fui conferir aqui para o Papo de Berçário a estreia do novo filme dos Muppets, dentro do projeto “Matinê Infantil”, promovido pelo Shopping Pátio Higienópolis, em parceria com a Rede Cinemark. Uma inciativa bem bacana que tem como objetivo incentivar eventos culturais e atrair os moradores da região, que tenham filhos pequenos, para o shopping, convidando-os para estreias de filmes infantis. Além do ingresso gratuito, os pais e as crianças recebem brindes, pipoca e cortesia no estacionamento. O projeto acontece sempre nas sessões de domingo de manhã e já exibiu nesse ano: Carros 2, Smurfs, Diário de um Banana 2, Happy Feet 2, além de Muppets. E, em 2012, a atividade deve continuar.


(Abro um parênteses aqui para falar sobre o filme Muppets. Acabei não levando minha filha na sessão, o que foi muito bom. Como desconfiava, ela é pequena demais (1 ano e 3 meses) para o filme. Acho que a faixa etária ideal é acima de 4 ou 5 anos. Simplesmente porque o enredo é complexo e não tem aquela velocidade blockbuster que estamos acostumados a ver. Aliás é um filme bem adulto, mas quem conhece Muppets não se surpreende com isso. As crianças podem gostar por conta dos bonecos e das músicas, nada mais. Já os pais que são fãs dos Muppets poderão matar a saudades e, aí sim, compreender as piadas subjetivas, bem no estilo de humor americano.)



Mas papais e mamães com bebês até 18 meses: não se desesperem!!! Vocês podem, e devem, curtir também as sessões do Cinematerna. Diversos cinemas do Brasil já oferecem essas sessões especiais, que têm som e ar condicionado reduzidos, meia luz e uma gentil infraestrutura para bebês, com trocador, fraldas e afins, além de brinquedos para os maiorzinhos. Já fui inúmeras vezes e recomendo demais. Para saber mais sobre a programação e tirar dúvidas, acesse o site do projeto: cinematerna.org.br

Por fim, outra dica legal para quem mora em São Paulo é visitar o Aquário da cidade. É um passeio gostoso para crianças de todas as idades e também para nós. O valor do ingresso é um tanto salgado (adultos pagam R$30, crianças de 3 a 12 anos R$ 20, já menores de 3 não pagam). Ainda assim, vale a pena, se puder. O Aquário também tem site e lá você encontra mais informações: aquariodesaopaulo.com.br

Bom, gente, dá pra ver que não faltam opções para a molecada, com direito a diversão para toda a família!

Então, beijos a todos e boas férias!!!­­­

(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 07/12/2011)

23 de novembro de 2011

Papo de berçário na… depilação!

É, minha gente, mulheres têm a árdua tarefa de se submeter periodicamente a pequenas sessões de tortura voluntária a que chamamos “depilação”. Por lá, muitas e muitas mulheres, separadas em estreitas e discretas baias, falam e têm seus pelos arrancados por gentis, mas impiedosas, depiladoras. Às vezes é inevitável ouvir o papo que rola nesses locais, onde até algumas confidências são trocadas.

Dias desses, a moça que estava na cabine ao lado da minha comentava com a depiladora que ainda amamentava seu bebê. Quando notei que a conversa era sobre o tema, não pude me conter e comecei a prestar atenção na conversa alheia. Que feio. Rsrs… Ok, ok, eu me envergonho de confessar isso, mas achei que valia me entregar aqui para poder comentar o assunto com vocês.

Bom, lá pelas tantas, a moça disse que infelizmente seu leite começou a secar e que ela não sabe o que aconteceu. Contou que atualmente seu bebê mama umas três vezes ao dia e que, claro, recebe outros tipos de alimentos. Nessa altura, eu já comecei a pensar: puxa, o que terá acontecido? Quanto tempo será que tem o bebê? Será que posso ajuda-la de alguma maneira?

Ela continuou e, então, vieram todas as respostas. Afirmou, lamentando, que gostaria de amamentar “pelo menos até os seis meses”, mas que “do jeito que está, será difícil”. Me surpreendi. É, ainda me surpreendo com a naturalidade com que algumas mães falam sobre o desmame de bebês tão pequenos. Logo em seguida ela informou: “ele está com quatro meses e meio”.

Poxa, não há quem nunca tenha escutado, pelo menos uma vez na vida, alguma campanha sobre a importância do leite materno, os benefícios que ele traz para mãe e bebê, indicando que os pequenos devem ser alimentados EXCLUSIVAMENTE até os seis meses. Exclusivamente quer dizer: não receber qualquer outro tipo de alimento, nem água nem chá nem suco nem nada. Portanto, seis meses é o tempo mínimo que o bebê deve mamar o leitinho da mamãe e não o máximo!

É claro que a realidade, até mesmo por restrição de direitos trabalhistas da mulher, dificulta essa conduta. Mas não é impossível. Após a licença maternidade, pode-se ordenhar o leite durante a jornada de trabalho e congelá-lo para oferecer ao bebê na sua ausência. Após a alimentação complementar mais estabelecida, o bebê passa a mamar duas ou três vezes ao dia (manhã e noite, por exemplo) – o que permite a manutenção do aleitamento até os ideais “dois anos ou mais”.
Compreendo, de verdade, todas as dificuldades, os perrengues e as mazelas dos primeiros meses de cuidados com o bebê. A superação e o cansaço. Mas conheço mulheres incríveis que enfrentaram enormes problemas com amamentação e nem por isso desistiram. Exemplos lindos de entrega e doação que, de um jeito ou de outro, quem quer ser ou é mãe deve estar preparada para aceitar, com amor e paciência!

Essa será uma fase intensa, mas maravilhosa, que nada poderá superar. Se você acredita ou, seria melhor, conhece a importância da amamentação, saiba que mesmo com dificuldades é possível manter o aleitamento. Para isso, busque informações (recomendo o site: www.aleitamento.com) e apoio de profissionais especializados, como pediatras verdadeiramente comprometidos com a questão e consultoras em aleitamento materno.

Pode ter certeza, vai valer a pena!!!

Quer conhecer melhor os benefícios da amamentação para mãe e bebê?

Veja o vídeo “Amamentação: muito mais que alimentar a criança”, elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) em parceria com o Ministério da Saúde.

Recomendo também o documentário em DVD “Amamentação Sem Mistério” – que pode ser comprado até mesmo pela internet – com profissionais super competentes (e alguns queridos!! rsrs) e depoimentos muito bacanas.

Veja o trailer:


(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 23/11/2011)

9 de novembro de 2011

Uma estrada de tijolos amarelos?

Não. Decididamente a maternidade não é uma estrada de tijolos amarelos como aquela do clássico Mágico de Oz. Muitos são os desafios, as rotas e as armadilhas do caminho. Quando nos lançamos nessa jornada, em geral, temos lá nossas convicções e escolhas predefinidas. Muitas não mudam, outras se mostram dezenas de vezes mais difíceis do que pareciam, outras, definitivamente, impossíveis.

Logo de cara, uma grande prova se coloca para as mães: a amamentação. Aquela imagem idílica de um bebezinho rechonchudo, calmo e apaixonado, que se aconchega languidamente ao seio materno e sorve com carinho seu alimento, é mesmo perfeita para os comerciais de margarina. Mas não se parece, de modo geral, com o que acontece na realidade – especialmente nos primeiros momentos.

E isso não quer dizer que amamentar seja sempre difícil, doloroso ou sacrificante, pois não é. Mas quer dizer que é preciso estar informada e, acima de tudo, é preciso se entregar de corpo e alma para essa experiência. E, para isso, não há outro jeito, você tem que estar consciente e convicta da importância do aleitamento materno.

O impacto dessa decisão terá conseqüências determinantes para a construção imunológica do seu bebê, para a saúde e a segurança do seu crescimento e será fundamental para nutrir física e emocionalmente o seu filho, por toda a vida. Por essas e outras, amamentar nunca foi uma opção para mim. E sim uma função inerente à maternidade, uma etapa, além da gestação.

Nos primeiros dias, é tudo novo, estranho, tenso. Assim foi comigo. Bicos doloridos, peito cheio, incertezas. Todos os livros, conselhos e informações sumiram da mente. Eu me senti bem perdida. Acho que foi uma grande mistura de medo com hormônios a mil.

O que me ajudou? Primeiro o apoio incondicional do meu companheiro. Segundo, a orientação amorosa de ótimas e queridas profissionais. Acho que foi a combinação perfeita, que aos poucos me ajudou a conhecer o meu bebê, o meu corpo e as nossas necessidades.

Ainda assim eu pensava, diversas vezes: quando é que amamentar se tornará um prazer? Esse dia chegou. Demorou um pouquinho, mas valeu cada minuto de superação. Então, descobri que, além de gerar e parir, ver um filho crescer graças ao nosso leite é uma felicidade incomparável.

Até hoje foram seis meses de aleitamento materno exclusivo e mais oito de aleitamento complementar. Totalizando um ano e dois meses de amamentação, feliz e plena, sem data marcada para terminar. Sei que ao amamentá-la ofereço muito mais do que um alimento saudável e rico, ofereço carinho, amor, cumplicidade e segurança. E assim será até quando for bom para mim e para ela.

Assim, recomendo a quem deseja atravessar essa linda etapa da estrada da maternidade (que não tem mesmo só tijolos amarelos) que traga na bagagem a certeza de que, por maiores que sejam os obstáculos, essa travessia será absolutamente recompensadora.

(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 09/11/2011)

26 de outubro de 2011

Humanizado ou não? Eis a questão.

Na semana passada foi publicada uma matéria sobre “Parto Humanizado” no portal do canal GNT. Sob o título “Parto humanizado não é, necessariamente, natural. Entenda.”, a reportagem circulou por listas de mães e chegou também na página do Twitter da Netfraldas. Logo que vi, mandei mensagem desaconselhando a leitura do texto e prometi falar do assunto por aqui.

Desaconselhei por entender que a matéria só acertou no título, afinal parto humanizado não é sinônimo de parto natural mesmo. Entretanto, o texto apresenta inúmeros problemas, que vão desde o conceito de humanização até informações erradas sobre o trabalho de doulas, o papel das parteiras, os procedimentos adotados em partos domiciliares… enfim! Muita abobrinha!

É legal dizer que a ampliação do debate sobre a questão do atendimento ao parto é muito importante. Porém o que temos visto, com grande frequência, é muita desinformação, confusão e falta de foco na abordagem do assunto, principalmente nas opiniões de “especialistas”.

Talvez isso se explique pelo fato de vivermos nos dias de hoje uma patrulha ideológica muito grande. A praga do politicamente correto, que poderia incentivar melhores práticas sociais, parece que, ao contrário, só tem estimulado a hipocrisia generalizada, além da multiplicação de informações incorretas, deturpadas e a utilização inapropriada de determinados conceitos. Como, por exemplo, o conceito de humanização.

O que quero dizer com isso? Quero dizer que ser “humanizado” está na moda e ninguém dirá que não é a favor disso. Contudo, esse conceito, especialmente no atendimento ao parto, é muito mais amplo do que se tem propagado por aí. O que entendo por atendimento humanizado ao parto é devolver à mulher o seu protagonismo, o seu direito de colocar seus filhos no mundo, de parir, de ser dona de suas escolhas na gestação, parto e pós-parto.

Assim, uma equipe humanizada é aquela que enxerga o ser humano da maneira completa e complexa que é, com suas limitações e infinitas possibilidades, e que, numa relação concreta de confiança, dual, estabelece ali uma parceria para se chegar ao melhor desfecho possível. Isso pressupõe respeito, acima de tudo. Um atendimento humanizado é aquele que apoia, informa, acolhe, mas que jamais furta da mulher seu papel primordial no nascimento de um filho.

Portanto, parto humanizado de fato não é necessariamente natural. Ele se propõe apenas a ser o melhor possível para a mãe e o bebê. Ou seja, prioriza o parto normal, por ser a melhor e mais segura forma de nascimento, com intervenções mínimas ou exclusivamente necessárias. E isso, acredite, faz TODA a diferença. Outra característica primordial do parto humanizado é sua relação direta com as diretrizes preconizadas pela Organização Mundial da Saúde – que condena, por exemplo, a episiotomia de rotina, entre outras questões muito importantes.

Há que se esclarecer que ao mencionar a questão do parto domiciliar o especialista da referida reportagem afirma que um médico “tem mais condições de resolver complicações do que uma doula”. Ora, isso nunca foi questionado. Uma doula JAMAIS substitui ou atua como médico ou mesmo como parteira. O papel dela é completamente outro. A doula acompanha a mulher durante o trabalho de parto exclusivamente para dar-lhe apoio emocional e auxílio na busca do alívio da dor com a utilização de métodos naturais (como bola de pilates, massagens, banhos, posturas etc.).

Por final, minha crítica como jornalista. Não espere uma avaliação perfeita de um cardiologista sobre uma cirurgia de joelho. Torço para que da próxima vez que alguém escrever sobre parto humanizado procure profissionais que realmente saibam o que isso significa e, preferencialmente, façam desse conceito a essência do seu trabalho.

E para nós leitores indico: senso crítico, sem moderação!

(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 26/10/2011)

12 de outubro de 2011

O melhor presente é você

Toda criança tem o direito de brincar, se divertir, explorar a imaginação. Aliás curtir a infância, inventar, desenhar, pintar e fantasiar são delícias dessa idade que, quando bem aproveitadas, deixam saudades sem fim! No “Dia das Crianças”, os pequenos ganham, então, o direito a novos brinquedos, presentes e agrados. Quando eu era pequena, esperava com ansiedade esse dia, pois sabia que minha mãe e meu pai teriam algo especial para mim.

Hoje, entretanto, assim como em diversas outras questões, tenho a impressão de essa é mais uma convenção que se banalizou. E extrapolou todos os limites do consumo razoável.
As lojas de brinquedos estão abarrotadas, as crianças elétricas, meio desnorteadas em meio a tantas opções, todas em geral caras. E o mais interessante é que, de modo geral, aquele desejo incontrolável por um brinquedo, dissipa-se em poucos dias, quando ficam encostados e sem uso.
Sou defensora do consumo consciente (embora ainda tenha que melhorar e muito) e, principalmente, da resistência a viver a vida no piloto automático (em que pese seja, aparentemente, muito mais fácil). Acho que isso não é uma opção, é uma condição. Quem é assim não escolhe ser assim, é e pronto. (Filosofei agora! Hehehe…)

Bom, mas voltando à vaca fria (porque será que se dizemos isso???), o Dia das Crianças tornou-se mais uma convenção social em que todos os adultos DEVEM presentear filhos, sobrinhos, amiguinhos etc. Acho isso muito ruim por vários aspectos. Primeiro porque as crianças hoje em dia têm uma quantidade exagerada de brinquedos, e por sua vez não dão valor a eles. E quando digo valor, não estou me referindo ao preço das coisas, mas sim ao afeto, à relação de carinho e cuidado que a gente aprende a ter pelas nossas coisas.
Acho que esse é um aprendizado muito importante. Cuidar do que é seu e gostar das suas coisas. E, por favor, nem preciso dizer que coisas são coisas e não substituem pessoas e sentimentos… mas fazem, sim, parte da vida!

Além disso, a banalização do Dia das Crianças cria uma euforia fora de propósito nos pequenos, estimula o consumismo, multiplica o lixo e polui mentes e meio ambiente. É bom afirmar que não tenho absolutamente nada contra o dia das crianças, se usado com moderação, sabe?
Por isso, acho que temos maneiras muito mais legais e criativas de viver esse dia. Com passeios, brincadeiras criativas, refeições em família, muito amor e carinho. Porque é disso que as crianças precisam!!!

Assim, nosso dia das crianças será de diversão juntos, com direito a contar muitas histórias, passear, se sujar e ganhar muitos beijos e abracinhos da mamãe e do papai. Porque acredito em outras formas, que não meramente materiais, de demonstrar amor: como o afeto e a presença!!! Estar perto de seu filho, sobrinho, vizinho, amiguinho vale mais que mil brinquedos. O melhor presente é você!!!

(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 12/10/2011)

28 de setembro de 2011

O Jardim da princesa Isadora – Parte 2



Em nosso último papo por aqui, comecei a falar sobre a festinha de aniversário da minha princesinha, que ousou fazer um ano – totalmente sem a minha autorização. Como não teve outro jeito e ela cresceu, inadvertidamente, e assim segue, sem acanhamento, resolvemos comemorar seu primeiro ano com a família e os amigos queridos – que de perto ou de longe estiveram conosco nesse período.


Já falei sobre o tema, o convite e os comes e bebes (veja na Parte 1). Hoje conto detalhes da decoração, das lembrancinhas e das atividades que bolamos para a comemoração.
Na decoração, eu tive uma importante aliada: minha irmã, titia coruja da princesa, super-arquiteta-talentosa e, acima de tudo, sensível e festeira, que com muito bom gosto decorou cada cantinho, com destaque para a mesa principal, onde colocamos os docinhos e os cupcakes. Ficou tudo lindo!!!


Comprei todos os artigos descartáveis (forminhas de brigadeiro e cupcake, colheres, palitinhos, guardanapos, pratinhos) nas cores escolhidas para a festinha e, para dar um toque especial (que faz TODA a diferença da decoração), enfeitei tudo como pequenos detalhes. Nas colheres, por exemplo, coloquei lacinhos em cores alternadas. Nos palitinhos para os espetinhos de frutas, fixei recortes de coroa, com fitinhas, uma a uma. Ficou muito fofo e delicado. E, em cima do primeiro cupcake, que estava num suporte lindo (emprestado de uma amiga querida!!), coloquei uma cascata de corações de EVA, que eu mesma fiz com arame e cola. Essas pequenas coisinhas dão um toque muito especial e é aí que a festinha fica única, especial e personalizada!!


Outra ideia da decoração foi fazer “bandeirinhas” para identificar os espaços e artigos. Uma para a entrada, na mesa das “Lembrancinhas”; outra para localizar o trocador (sim, porque em festa de criança sempre vão muitos bebês que ainda usam fraldas!!! Aliás, olha aí a clientela em potencial do NetFraldas!! Rsrs…).


Além disso, colocamos bandeirinhas na entrada da parte interna no salão com o tema da festa: “O jardim encantado da princesa Isadora”, sem contar o local dos “Sanduíches”, o “Cantinho de Brincar” (já explico) e o varal de fotos (já explico – parte 2).

Fiz ainda pequenas plaquinhas para identificar os sucos e complementos da salada de frutas. Sempre usando papéis e fitas nas cores tema. Como utensílios: tesouras com cortes ondulados, cortadores para scrapbook (que são absolutamente fantásticos!! Porém CAROS!! Snif!!), régua, esquadro, tesoura, cola e muiiiiita paciência. A cada semana eu tinha uma ideia diferente e, por isso, nos dias que antecederam o aniversário, trabalhei nos preparativos até de madrugada, lógico!! Rsrs…



Outro ponto essencial para uma festinha com tema de jardim são as flores! Por isso, na véspera, fui à feira das flores no CEAGESP, em São Paulo, que de terça e sexta vende no varejo. Eu nunca tinha ido lá! Mas morria de vontade. Não fosse pela pressa (tinha TODOS os doces para fazer naquele mesmo dia!!), eu teria me perdido em meio à beleza e à diversidade das flores, cores e perfumes. Comprei bastante coisa e a economia valeu demais! Recomendo para quem precisar comprar flores em quantidade ou mesmo para um ótimo passeio!!! Tem até barraquinha de pastel e caldo de cana na saída!!


Usamos as flores em cada cantinho do salão, em especial na mesa central e nos demais locais em que servimos bebidas e comidinhas. Ah! Enfeitei também os banheiros, com flores em potinhos de vidro de molho de tomate e suco (que eu sempre guardo para essas ocasiões!! Rsrs…). Juntei três e passei uma fitinha, com um laço. Colocamos ainda toalhinhas bordadas com o nome da Princesa, que ganhei no enxoval!! Ficou um doce!!

Um toque especial também com as flores de papel crepom, feitas com todo amor e carinho pela vovó, de quem a mamãe certamente herdou esse gosto pelo artesanato, e com auxílio dedicado da tia-avó! As flores de papel foram usadas na mesa das lembrancinhas e nos arranjos das mesas dos convidados. Já as toalhas que utilizamos foram reaproveitadas do chá de bebê e receberam um acabamento especial, com barrado em viés, feitos com muito capricho e carinho por uma “vovó-torta” – mãe da minha comadre Juju!


Para finalizar a decoração, mandei fazer “bichinhos de jardim” em feltro, espetados em palitinhos. Foram: passarinhos, borboletas e joaninhas, que espalhamos no salão. Sucesso. O pessoal gostou tanto que quase não sobrou nenhum para contar história!!! Rsrs…

A mesma moça que fez os bichinhos fez também uma das lembrancinhas, que foram chaveirinhos em formato de coroa, embalados um a um pela mamãe aqui (que tem TOC e não gostou das embalagens originais). Com a super ajuda de um grande amigo design, fizemos um adesivo personalizado, com o mesmo layout dos convites, que usei para enfeitar as embalagens das lembrancinhas. As crianças levaram giz de cera e bolinhas de sabão, também embaladinhas uma a uma, com saquinho transparente, fita de cetim e adesivo.



Para completar as lembrancinhas, imprimi cerca de 90 fotos da pequena, em diferentes momentos e idades, e montamos uma varal de fotos, com barbante e mini pregadores coloridos. Logo acima, escrevemos em bandeirinhas: “Meu primeiro aninho”. Os convidados se divertiram escolhendo as fotos para levarem para casa. Cada uma, no verso, também tinha o adesivo do aniversário colado.


Deixamos sobre as mesas um “kit”, com papel, giz de cera e canetinhas, embalado com um pedido: “deixe um recado para a Dorinha”. Ao final da festa, recolhemos lindas mensagens e recadinhos do coração.

Além dessas pequenas atividades (varal de fotos e recadinhos), contratamos uma super desenhista para fazer caricaturas dos convidados. A turma se divertiu e as crianças foram retratadas usando adereços, como coroas e gravatinhas. Para os pequenos, havia ainda um “Cantinho de Brincar”, com tapetinho de EVA, túnel de tecido e brinquedos diversos.

O registro fotográfico também é um investimento que vale muito a pena!!! Nada se compara a fotos feitas por um profissional, que ficarão como lembranças para toda a vida!! Ainda mais quando são realizadas por amigos, como no nosso caso!! [Para ver boa parte das fotos, aliás, visitem o Blog da Luh Camargo]

Nossa intenção era, ao final, entregar aos convidados marmitinhas (de alumínio) com alguns docinhos e cupcakes para comerem em casa. A ideia era garantir uma degustação pós-festa, para relembrar aqueles momentos gostosos, e também não desperdiçar nada (fiquei traumatizada com a sobra de comida que rolou no meu chá de bebê)!! Para isso, compramos as marmitinhas, colamos adesivos e fitas para fechar. Entretanto, quase não sobrou naaaaaada! Rsrs… E pouca gente levou marmita!! Essa ideia ficará melhor da próxima vez!! Hehehe…

Enfim, o aniversário da princesa foi um sucesso! Foi gostoso, divertido, curtido e compartilhado só com gente MUITO especial!!! Vale registar um agradecimento especial ao papai da aniversariante, que ajudou em cada detalhe! Sem ele NADA disso seria possível!

Pena que passa muito rápido na hora. Por isso, amo os preparativos e faço valer o velho ditado: “o melhor da festa é esperar por ela”!!

(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 28/09/2011)

14 de setembro de 2011

O Jardim da princesa Isadora – Parte 1



Achei que sairia traumatizada da organização da festinha de um ano da minha filha. Isso porque, como dizem, eu gosto de “inventar moda”. As festinhas convencionais, especialmente em buffets, não me agradam e ideias alternativas não faltam.

Não fosse pelo “pequeno detalhe” de ter que trabalhar, em horário comercial, o preparo da festinha teria sido só prazer. Afinal, poderia ter me perdido nas horas de dedicação a cada detalhe, com prazer e amor. Ainda assim, todos os preparativos foram curtidos e aproveitados e a comemoração que, como de costume, passou voando, foi só de alegria e emoção!

Primeiras decisões



Minha primeira ideia foi fazer uma festinha em casa. Adoro esse ambiente pessoal e aconchegante. Entretanto, essa decisão implicaria em termos que limitar o número de convidados, por uma questão bastante prática: falta de espaço. Pensamos muito. Batemos o martelo e voltamos atrás algumas vezes.

Não queria deixar de convidar ninguém que nos prestigiou no chá de bebê e a lista era longa. Assim, abri mão da festinha em casa e optei por usar o salão de festas do prédio dos meus pais. E lá, tudo que tem de bom, tem também de ruim: o fato de ser enorme! O espaço grande é ótimo, pois as pessoas ficam confortáveis e tem lugar para tudo – especialmente para as crianças brincarem. Entretanto, tanto espaço assim dá um baita trabalho para decorar, preencher e não ficar vazio e sem graça.

Tema personalizado

Bom, decidido o local, o próximo passo era definir o tema. Como não sou muito chegada nos temas mais clássicos das festinhas infantis – e ainda posso escolher o que quiser (sei que isso está com os dias contados) – , optei pelo tema “jardim”. Sempre chamamos a Dorinha de “Princesinha” e, assim, ficou sendo: “O jardim Encantado da princesa Isadora”.


Com o tema em mente, a decisão seguinte foi fazer um convitinho em papel para ser entregue pessoalmente ou enviado por correio. Esse negócio de convite virtual é muito legal e prático, mas perde todo o charme, né, não? Optei por 4 cores básicas para o convite: roxo, lilás, rosa e amarelo. E segui esse mesmo padrão para todos os apetrechos, das forminhas de brigadeiro às lembrancinhas. Fiz os convites usando ideias de scrapbook, com recortes e sobreposição de cores, em forma de coroinha.

Comes e bebes saudáveis e criativos

Pesquisei ideias de alimentos mais saudáveis para festinhas infantis. Nada de salgadinho frito ou muita “porcaria”. Acabei encomendando sanduíches redondos com pães diversos – de mandioquinha, beterraba, integral e preto – e recheios também variados, entre eles: salame, peito de peru, carpaccio e atum (para os convidados vegetarianos, que comem peixe). Para as crianças, em especial, pipoca, salada e espetinhos de frutas (aqui reservamos uns incrementos para os mal-intencionados: creme de leite, leite condensado, iogurte e chantilly).

Fizemos todos os docinhos em casa. Foram mais de duzentos brigadeiros, beijinhos de coco e docinhos de abóbora, em três versões – enroladinhos, no potinho e na colher. Sim, na colher e enfeitados com confeitos coloridos. Ficou original, prático e muito bonitinho. Como brigadeiro é paixão nacional e o quilo do chocolate belga é caríssimo, investi nos confeitos de chocolate meio amargo belga e castanha de caju moída.


Para substituir o bolo, fiz cupcakes de três sabores: fubá com goiabada; banana com gotas de chocolate e cenoura recheado de Nutella, com cobertura de ganache e confeitos fofos de estrelinha, coração e afins, que finalizaram graciosamente. Uma amiga querida emprestou o suporte importado (no Brasil custa um milhão de dólares!!), que ajudou a decorar a mesa principal.

Para as bebidas, caprichamos na variedade de sucos de polpa congelada. Aqui a graça foi escolher sabores diferentes e deliciosos, entre eles: amora, jabuticaba, pitanga, graviola, cajá, maracujá e cupuaçu. Todos adoçados com açúcar – não teve como evitar. Exceção feita ao suco de uva orgânico integral, que mantivemos sem adoçar por conta dos bebês. Completamos com cervejas e refrigerantes.

A comilança foi um sucesso e todo mundo se divertiu com a variedade e a qualidade dos lanches, frutas e doces. Já os detalhes da decoração, lembrancinhas e “entretenimentos” são um capítulo à parte, que eu conto em nosso próximo encontro, ok? Até lá.

(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 14/09/2011)

31 de agosto de 2011

Um conselho para mim

Há alguns dias me perguntaram qual conselho daria a mim mesma se pudesse voltar ao passado, pouco tempo antes de minha filha nascer. Pensei muito. Diversas coisas vieram à minha cabeça.

Talvez eu dissesse que deveria curtir mais e me preocupar menos com tudo. Diria para ter paciência comigo mesma, pois eu também estaria aprendendo. Diria que tudo ia dar certo!! Diria que viveria os melhores dias da minha vida. Diria que seria muito melhor e muito pior do que eu imaginava…
Eu diria para pedir ajuda e me preparar melhor para os primeiros dias. Diria para ter um pequeno estoque de comidas saudáveis, prontas e congeladas no freezer… (rsrs). Mas uma frase fez mais sentido do que todas e tive certeza de que diria a mim mesma: prepare-se, tudo vai mudar… para melhor!!

E assim tem sido. Nesses primeiros dias de setembro minha filha completa um ano. Ela chegou com a primavera, trazendo novas flores e seus espinhos. Virou minha vida de cabeça para baixo. Como diz a canção de Adriana Calcanhoto: “nada ficou no lugar…”. E, acredite, o impacto dessa constatação na vida de uma taurina – como eu – é extremamente importante. A rotina, a estabilidade e a segurança são como combustíveis para vivermos.

As mudanças começaram pela rotina, a privação de sono, a dedicação exclusiva e intensa a um único e pequeno serzinho. O dia-a-dia de cuidados e amamentação é pesado, especialmente no começo (agora, amamentar já é só prazer!). E, a partir daí, todo dia é segunda-feira, manja? Apesar disso, as minhas segundas passaram a ser ensolaradas e alegres, sempre, faça chuva ou faça sol. Acordar diariamente com aquela vozinha, balbuciando, é bom demais. E por mais que muitas vezes eu pense: “mas já? É tão cedo ainda! Queria mais cinco minutinhos”, vou contente buscar meu bebê e aconchegá-la ao peito.

Contudo, as transformações foram muito mais intensas dentro de mim. Aquela Daniele de antes da maternidade não existe mais. Aquela mulher, cheia de certezas e ideais, agora tem um mar de questionamentos, mas tem também convicções ainda mais fortes! Essa nova pessoa que me tornei ainda é um tanto desconhecida, nebulosa. Às vezes é calma, segura e sorridente. Às vezes é brava, irritadiça e reclamona. A mãe que venho me tornando não é nem de longe perfeita como eu idealizei, mas é certamente a melhor que posso ser. Porque os filhos nos fazem querer ser melhores e, por isso, mudar é inevitável.

A doação integral é outra lição da maternidade. De repente, nos desapegamos dos nossos desejos e passamos a querer apenas a saúde e a felicidade dos pequenos. Quando nos damos conta disso, percebemos que tudo virou mesmo de ponta cabeça. Uma coisa é certa: a vida, vista por esse novo ângulo, é muito mais feliz e completa. Um brinde a essa plenitude! Obrigada, minha filha! Tim, tim!

(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 31/08/2011)

17 de agosto de 2011

Coisas que a maternidade me deu

A primeira coisa que a maternidade me deu foi MEDO. Na verdade, muito mais que isso. Foi um verdadeiro pânico, um pavor incrível, uns pensamentos constantes do tipo: “o que é que eu fui inventar?” e “pronto, agora f…deu!”.
Com o passar dos dias, com a alegria compartilhada, repartida e multiplicada em sorrisos e emoções, a maternidade passou a me dar uma serenidade – absolutamente atropelada por enjoos e mal estar. Aí a maternidade me deu uma dúvida: como as pessoas têm mais de um filho, se já sabem que vão passar por tudo isso? Hahaha…

Em seguida, eu ganhei outra coisa. E esta está entre as mais importantes conquistas da maternidade, que ainda hoje reverbera no meu peito e me faz ir em frente: a certeza de que tudo “vai passar”. Então, a gente descobre que, como num passe de mágica, tudo que parecia difícil e amedrontador, de repente, passa – lá pela 12ª semana (!!) – e nos sentimos muito bem, felizes e iluminadas!
Pouco depois dessa fase, a maternidade me deu a sensação de onipotência. Passei a me achar o último biscoito do pacote. Eu passava e pessoas sorriam para mim, levantavam para eu me sentar, perguntavam se eu estava precisando de algo. Uma delícia, que assim como as outras coisas, também passa… rsrs.

Assim fui vivendo cada descoberta, passei a trilhar um caminho lindo, de resgate da essência feminina, do poder maior da mulher, do tal “empoderamento”, de reconexão com o meu lado mais instintivo, primitivo, natural. Aí a maternidade me deu a chance de olhar e enxergar dentro de mim uma força que eu não imaginava ter. Fez-me acreditar na capacidade de gerar, parir e nutrir. Fez-me ter certeza de que havia encontrado meu lugar no mundo. Deu-me dados, informações e, acima de tudo, uma rede de pessoas especiais, que para sempre estarão em minha vida e em meu coração.

A maternidade me deu certeza! Certeza de que eu podia mais, melhor e sempre. E, muito além disso, me deu uma prova irrefutável de que desejar, lutar e acreditar não têm nada a ver com controlar! A maternidade me deu um novo olhar para a vida e me fez ver a bobagem que é querer dominar a existência. Aprendi a respirar fundo, confiar e me entregar, seguir o coração, estar próximo de quem amo e “deixar a vida me levar”.

Quando a minha princesa chegou, a maternidade me deu um milagre em forma e carne, pequenina, frágil, mas já cheia de lições. Alguém que chegou, arrebatou nossos corações, trouxe tanto amor e alegria e virou tudo de cabeça para baixo. A maternidade me deu, então, a convicção de que nada seria como antes! Que bom!!! Passamos de fase, e assim será continuamente.

A maternidade me deu, a partir daí, o prazer de nutrir, de alimentar o corpo, o espírito e o olhar cúmplice, entre mim e minha filha.

A maternidade me deu o desespero, a fragilidade diante da imensa responsabilidade de criar, sustentar, amar, respeitar e educar essa vida que desejei trazer ao mundo.

A maternidade me deu a vontade de voltar a sonhar, de fazer planos, de chorar baixinho de emoção e amor.

A maternidade me deu vontade de viver tudo isso de novo, um dia, de um jeito novo, mais calmo, mais sereno, mas com o mesmo amor. (E aqui comprovo que a maternidade me deu amnésia dos primeiros dias, do primeiro mês, das dúvidas, das inseguranças, da exaustão. Rsrsrs…).

A maternidade me deu um novo companheiro, ainda mais cheio de amor, preocupação e zelo. Um companheiro irresistivelmente apaixonado por nós.

A maternidade me deu uma família linda.

A maternidade me deu sorrisos de gengivão, de dentinhos, de dentões.

A maternidade me deu alegria de palminhas e gritinhos de excitação.

A maternidade me deu, novamente, a certeza de que tudo vai passar: as noites em claro, o cansaço, a preocupação, o medo, a incerteza. Mas também o colinho, os primeiros passinhos, as risadinhas, a vozinha de criança, o chamado de “mamãe”, os dedinhos fofos, os pezinhos de bisnaguinha…

A maternidade me deu uma saudade sem fim de tudo que ainda não vivi!!!

(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 17/08/2011)

6 de maio de 2011

Relato de Parto – A dor é inevitável, o sofrimento opcional.




Relato de Parto – Nascimento Isadora – 5 de setembro de 2010

Acordei no sábado (dia 04/09) por volta de 8h sentindo uma leve coliquinha. Foi uma sensação diferente, achei “suspeito”, mas sabia que poderiam ser apenas contraçõesinhas inocentes ou pródromos (contrações preparatórias, fora do trabalho de parto), que poderiam durar dias. Comentei com o Fábio, e estava muito tranquila. Fui para a minha aula de yoga para gestantes e durante os exercícios, especialmente no relaxamento, senti mais umas três vezes essa dorzinha leve – como uma cólica menstrual fraquinha mesmo. Ao longo da aula, a Katia Barga – instrutora de yoga para gestantes e minha doula – caprichou nos agachamentos e posturas para “estimular” o trabalho de parto. Digo estimular entre aspas, pois não há nada (natural) que seja capaz de provocar diretamente um trabalho de parto, mas é possível estimular o corpo a iniciar este processo. Pensei em comentar com a Katia sobre esses incômodos, mas ao final da aula tinha muita gente por perto e preferi não “alarmar” ninguém.

O Fábio foi me buscar e ao sairmos da Casa Moara – local onde acontecem as aulas, palestras para gestantes e onde minha médica atende – fomos na Alô Bebê comprar algumas coisinhas de última hora. Voltamos para casa e pensamos em sair para almoçar, mas preferi ficar em casa e descansar um pouco. Nessa fase da gravidez, tudo cansa. E achei que “se fosse o dia” era melhor descansar. Uma amiga veio almoçar conosco (comemos um belo nhoque), conversamos e demos risada. Não comentei nada com ela, pois de fato não sabia dizer se aquelas cólicas tinham algum significado maior.

Fazia um calor terrível e grávida eu senti MUITO calor. Ficamos a tarde toda debaixo do ventilador, cochilei. O dia foi passando assim. À tarde avisei a Katia por torpedo e ela me recomendou repouso mesmo. Fui diversas vezes ao banheiro ao longo do dia e achei que esse era um sinal de que eu de fato poderia estar iniciando o trabalho de parto, afinal sabia que a perfeição da natureza faz com que o organismo faça uma espécie de limpeza intestinal natural antes do parto.

Ao final do dia, novamente pensamos em sair para comer alguma coisa, mas acabamos decidindo tomar um lanche na (ótima) padaria perto de casa. Fomos a pé. No caminho, notei que as contrações estavam curiosamente ritmadas – isso era por volta de 20h30. Jantamos e na volta decidimos contar as contrações para ter uma ideia de quantas vinham em uma hora e qual o intervalo. Entre 21h e 22h, contamos 10 contrações num intervalo de aproximadamente 6 minutos, com duração de uns 30-40 segundos mais ou menos. Avisamos a Katia novamente.

Ela decidiu comunicar a Marcia Koiffman (parteira, enfermeira obstétrica, auxiliar da Andrea, querida, abençoada, hehe...), pois ela estava na Riviera com a família. Ela havia me ligado para informar da viagem (afinal era o final de semana que antecedeu o feriado de 7 de setembro) e me pediu para avisá-la sem demora caso sentisse algum sinal de TP, que ela voltaria.
Marcamos mais uma hora e os intervalos se mantiveram e começaram a diminuir. Por volta de 23h, a Marcia decidiu subir e ficar “de plantão” aqui em São Paulo mesmo. Nessa altura do campeonato, as contrações começaram a ficar mais doloridas, eu me concentrava durante o momento da contração, mas nos intervalos me sentia ótima. Decidi tomar um banho e ficar no chuveiro relaxando. Até aqui eu estava muito bem, achando que ainda havia MUITO pela frente e ainda (acreditem) sem ter certeza de que estava em TP e que a Isadora chegaria em breve.

Conversei com a Katia por telefone algumas vezes. Disse a ela que estava bem e combinamos que ela descansaria mais um pouco e que, quando estivesse mais intenso, eu ligaria. Saí do chuveiro e as contrações começaram a se intensificar. Fiz xixi e notei que o tampão estava saindo. Neste momento, e só neste momento, pensei: é hoje!! Me deu um frio na barriga! Literalmente!
Em mais ou menos meia hora, senti que estava muito tensa e a dor estava começando a ficar forte. Mandei um torpedo para a Katia pedindo para ela me ligar, pois as contrações estavam muito intensas. Pedi para ela vir. As contrações estavam vindo de 3 em 3 minutos e durando cerca de um minuto. Comecei a me desesperar. O Fábio já não sabia muito como me ajudar e eu não encontrava nenhuma posição que me aliviasse a dor. O calor também me incomodou muito, estava muito quente de fato naquela noite e fiquei com o ventilador ligado em cima de mim.

A Katia chegou na hora certa. Eu estava me deixando tomar pela tensão e isso estava tornando a dor insuportável. Ela me abraçou, me acalmou e seu olhar cúmplice e tranquilo foi FUNDAMENTAL naquele momento. Fundamental para mim e também para o Fábio, que já estava no limite de sua condição de me apoiar. Quando a Katia chegou, ele me deixou com ela e foi cuidar de colocar as coisas no carro e organizar tudo para nossa ida à maternidade – o que foi ótimo!

A Katia me ajudou a respirar, me centrou e retomei a concentração – tão importante neste momento. Senti que, se ela não tivesse chegado naquela hora, o desespero e a tensão tomariam conta de mim e só fariam a dor triplicar (se é que isso é possível! Rsrs).
Estava com muita dificuldade de encontrar uma posição de maior conforto. A Katia sugeriu voltarmos ao chuveiro, mas o calor e a água quente não combinaram, tentei sentar na bola debaixo da água, mas não tinha jeito de aliviar. Comecei a ficar nervosa novamente, tensa pela dor e pelo que “estava por vir”. A dor, o incomodo da água quente e a tensão chegaram a me causar náusea e eu achei que fosse vomitar. Decidi sair imediatamente do chuveiro. Nessa hora, a Katia ligou novamente para a Marcia e concluímos que seria o momento de ir para o São Luiz.

Naquele momento eu fiquei muito tensa, pois pensar em entrar no carro, chegar na maternidade, passar por toda a burocracia e os trâmites que eu sabia que existiam lá me apavorou. Eu queria chegar na maternidade e ir para a banheira, mas não queria me deslocar até lá. Comecei a me sentir insegura e dizia para a Katia que estava chateada, pois estava sentindo muita dor e me abatendo muito cedo. E perguntava: se já estou assim agora, como é que eu vou aguentar até o fim? A minha expectativa é de que muita coisa ainda estava por vir.

A Katia chegou em casa por volta da 1h15 da madrugada do dia 5/09. Acredito que lá pelas 2h20/ 2h30 nós saímos para o São Luiz. O Fábio cobriu o banco de trás com uma toalha (para prevenir o rompimento da bolsa, que ainda estava intacta), e voou para a maternidade. Não pegamos trânsito nem sequer faróis fechados. Estava muito tensa, mas me concentrei muito, respirei profundamente e consegui me manter relativamente bem durante todo o caminho e nas DUAS contrações que eu tive no trajeto. Ao chegar na maternidade, o que mais me impressionou foi o ar de surpresa e incredulidade dos poucos funcionários que estavam, quase cochilando, na recepção.

A Marcia já estava lá à nossa espera e vê-la foi uma verdadeira benção. Que mulher maravilhosa! Eu estava em um momento difícil, mas nada seria mais tenso do que a ida para a maternidade. O Fábio ficou dando entrada na maternidade e descarregando o carro e nós entramos para a triagem, numa das minúsculas salas de pré-parto do São Luiz.
Tive muita sorte, pois a equipe de plantão conhecia a Marcia e deixou que ela mesma me examinasse. Fiz um xixizinho básico antes e deitei na maca. Havia ouvido dizer que exames de toque, antes e durante o TP, eram muito doloridos, mas naquela altura eu já nem me importava. Porém, ao contrário da minha expectativa, não senti nada!!

A Marcia, até com certa surpresa, avaliou: 10 cm, dilatação TOTAL. Ficamos felizes e surpresas, eu um tanto assustada! Ela me perguntou se tinha sentido a tal “vontade de fazer força”. E eu disse que não. Seguindo os protocolos hospitalares, tive que ficar no “cardiotoco” por algum tempo (Explico: Monitor Fetal Cardiotocográfico é um aparelho que monitora os batimentos cardíacos do bebê). Minha impressão é de que foram poucos minutos. A Marcia saiu para ligar para a Dra. Andrea (obstetra) e Dr. Douglas (pediatra neonatologista) e também avisou ao Fábio. Ele ficou muito feliz e surpreso. Mas teve que voltar, em seguida, para a recepção da maternidade para finalizar os trâmites burocráticos da internação.

A enfermeira me liberou logo do exame e perguntou se eu gostaria de uma cadeira de rodas ou maca para subir para a sala de parto. Eu disse que preferia ir caminhando mesmo. As duas salas de parto normal do São Luiz, chamadas de Labor Delivery Room ou LDR, estavam disponíveis. Escolhemos a número 2, que tem a maior e mais confortável banheira. Fui, amparada pela Katia, caminhando pelo percurso mais longo e inusitado da minha vida.

Isto porque ao me aproximar do elevador, onde uma enfermeira com cara de assustada segurava a porta, senti nova contração, porém algo sem precedentes também ocorreu: senti a tal “vontade de fazer força” ou os puxos, como costuma-se dizer. Olha, foi um negócio muito louco! Hehe... pq é algo realmente instintivo e involuntário. Não há uma análise, uma avaliação prévia, do tipo: hummm, acho que estou com vontade de fazer força. Você simplesmente faz!

A enfermeira que estava na porta do elevador, já com cara de “Meu Deus, o que é isso?”, nesse momento, quase enfartou. Eu olhei para a Katia e ela entendeu tudo. Apressamos o passo. Hoje lembrando dá muita vontade de rir, pois a cena, vista de fora, deve ter sido hilária. Mas, naquele momento, eu comecei a sentir medo.

Tenho total consciência de que esse medo se deu por algumas razões. A primeira delas foi porque o “expulsivo” sempre foi para mim o momento mais delicado e difícil de me imaginar passando por ele. É nessa hora que todos os fantasminhas da nossa mente ganham força e dimensão. Tinha medo da dor, de uma laceração, mas acima de tudo eu tinha medo do nascimento da minha filha. Tinha medo de ter que finalmente enfrentar todos os desafios da maternidade. A mudança irremediável que um filho traz para a vida. Tinha medo da mãe que eu seria. Tinha medo do meu nascimento como mãe. E de fato tive um luto intenso, em relação à morte de quem eu era para o nascimento da pessoa que estou me tornando.

Entrei na Delivery Room 2 do São Luiz e a Marcia já estava lá, preparando a banqueta de cócoras, à nossa espera. Não me senti confortável na banqueta. Quando as contrações vinham eu sentia muito desconforto e a posição não favorecia. Hoje percebo o quanto toda aquela “correria”, movimentação e ambiente hospitalar pode ter potencializado essa sensação. Em instantes, a Dra. Andrea chegou e juntou-se à Marcia para me apoiar. A Katia também permaneceu ao meu lado. Apesar da dor, eu estava bem e consciente de tudo o que estava acontecendo. Sentia que os puxos (a tal vontade de fazer força) estavam cada vez mais fortes.

O Fábio não chegava nunca e eu estava ficando tensa, com medo dele perder o nascimento da Isadora. Além disso, soube que o Dr. Douglas, que acompanharia a chegada da pequena, estava preso em um plantão. Ele solicitou que a Dra. Sandra de Souza nos atendesse. Eu estava ansiosa pela chegada dela, pois só com sua presença é que teríamos liberação para ir para a banheira para, se fosse o caso, a Dorinha nascer na água. Os pediatras plantonistas não autorizam o nascimento na banheira.

Nessa altura, o Fábio ainda não tinha chegado e pedi à Katia para telefonar para ele e saber onde estava. O coitado estava “preso” na admissão da maternidade etiquetando as malas!!! O atendente não queria liberá-lo e foi preciso que ele explicasse que perderia o nascimento do bebê para que, finalmente, pudesse subir.
Quando ele chegou, sentou atrás de mim e ficou me dando apoio. Ainda assim, a posição estava desconfortável. As contrações estavam bastante doloridas. Senti quando a bolsa rompeu e o líquido quentinho escorreu. Uma sensação gostosa! Sem sinal de mecônio. Pouco depois, a Sandra chegou e eu finalmente pude ir para a banheira. Digo “finalmente”, mas preciso registrar que todos chegaram muito rápido na maternidade! As meninas perguntaram se o Fábio desejava entrar na banheira junto comigo e ele disse que sim. Não havíamos combinado nada, mas ele sentiu esse desejo no momento. Fiquei feliz. Entretanto, como as nossas malas ficaram aprisionadas na recepção da maternidade, ele não tinha a sunga em mãos e, por isso, teve que entrar de cueca na banheira. E pra piorar: cueca BRANCA! Hehehe...

Tentei encontrar uma posição ideal na banheira, mas as contrações estavam bem intensas e os puxos cada vez mais fortes. Custei um pouco a “relaxar”. Senti vontade de gritar. Isso ajudava a me concentrar e “fazer força”. No dia seguinte, o Fábio disse que, naquele momento, ele conheceu o meu lado “Juma Marruá”. Hehehe ... Naquele momento eu estava com muito medo e pedia para as meninas me ajudarem. No intervalo entre as contrações, ficávamos em silêncio, concentrados – respirando e descansando.

O Fábio ficou atrás de mim e ajudava a me apoiar. A Dra. Andrea e a Marcia me diziam que a Isadora estava quase nascendo, mas, confesso, eu acha que elas estavam tentando me animar. Perguntei para a Andrea do que dependia o nascimento e ela disse: só depende de você. Nesse momento, eu pensei: é assim? Então, vamos resolver isso AGORA!
Passei a me concentrar muito durante as contrações e a fazer toda força que eu podia. Comecei a sentir o círculo de fogo. Na hora, me pareceu que o tempo parou, mas hoje sei que tudo aconteceu muito rápido. Talvez umas cinco ou seis contrações. Não sei ao certo.

Eu não acreditava que já estava quase acontecendo e as meninas me incentivaram a tocar a cabecinha da pequena, que já havia coroado. Senti os cabelinhos dela e não acreditei. Mesmo assim, disse: “meu Deus, mas ainda falta muito!!”. Todas riram...

O ambiente estava perfeito, cercado de amor, calma, silêncio e, acima de tudo, muito respeito!! Que honra estar naquela sala de parto, com aquelas mulheres maravilhosas, dedicadas e competentes! Além do meu companheiro perfeito, que me abraçava, beijava e procurava me tranquilizar a todo momento.

Na contração seguinte, a cabecinha da Isadora saiu. Que emoção!! A Andrea verificou que não havia circular de cordão e disse que podíamos esperar até a próxima contração para que o corpinho saísse completamente. Senti a Dorinha mexendo, já com a cabecinha para fora. Que sensação indescritível!! A próxima contração me trouxe a pequena, que veio direto para o colo, num chorinho delicioso e emocionante. Ficamos extasiados olhando para ela. O restante do mundo desapareceu e ficamos nós três ali, nos namorando, nos sentindo, nos tocando.




Isadora nasceu às 3h30, do dia 5 de setembro de 2010, pesando 3275Kg e medindo 50 cm. Aproximadamente 50 minutos após nossa chegada na maternidade.




Cobrimos a Dorinha com alguns panos e quando o cordão umbilical parou de pulsar, o Fábio o cortou. A temperatura da água havia esfriado um pouco e achamos melhor manter a Dorinha mais aquecida. A Dra. Sandra pegou a pequena para examinar, com toda a delicadeza e profissionalismo do mundo. Com carinho e atenção, deu Apgar 10/ 10 (nota que avalia a vitalidade e a condição do recém-nascido no primeiro e no quinto minuto de vida), pesou e mediu a minha princesa.

Levantei e fui caminhando para a cama, onde a Andrea e a Marcia já me esperavam para me examinar. Ainda tinha que parir a placenta!! Tive uma laceração pequena, de segundo grau, que precisou de 2 pontinhos. Essa foi a parte mais chatinha, mas não deu para evitar. Os pontinhos incomodaram nos dias seguintes, mas não me impediram de caminhar, tomar banho, sentar ou mesmo ir ao banheiro.

Como foi tudo muito novo e inusitado, é normal ficarmos receosos e às vezes assustados, mas com o passar dos dias essas pequenas coisas tomam uma dimensão insignificante diante da experiência avassaladora que é parir naturalmente. Eu não trocaria o meu parto por nada nesse mundo. E faria de novo, mil vezes – embora tenha brincado com o meu marido dizendo, ainda na sala de parto, que o próximo filho seria adotado, com certeza! Demos muita risada.

Enquanto eu tomava meus pontinhos, e uma aplicação de ocitocina para ajudar na liberação da placenta e na retração do útero, a Isadora veio mamar. De cara pegou perfeitamente e ficou ali no meu peito pela primeira vez. Eu olhava cada cantinho do seu rostinho e não acreditava que aquele bebezinho lindo estava, até então, morando dentro de mim!!! Em seguida, a Sandra e o Fábio deram um lindo banho de balde na Isadora, que parou de chorar e ficou curtindo o momento!!

Aos poucos, uma a uma das queridas, que amorosamente nos assistiram, foi embora e ficamos nós três, pela primeira vez fora do “ovo de Páscoa”. Enfim juntos! Esperamos amanhecer para avisar a família. Curtimos cada detalhe daquela noite/jornada incrível. E relembramos e revivemos essa história sempre. Às vezes ainda parece um sonho!


Assim, agradeço a Deus pelo presente maior e pela oportunidade de viver um amor tão pleno e intenso.

Agradeço à Fernanda Fioretti, companheira de escolhas e maternidade, pela atenção carinhosa e a indicação preciosa da Dra. Andrea Campos.

Agradeço à Dra. Sandra que tão carinhosamente recebeu e acompanhou a minha filha nos seus primeiros segundos de vida.

Agradeço à Andrea Campos pela aura de amor, pela prontidão e paciência em todos os momentos. Obrigada por ser essa mulher iluminada e essa profissional rara, competente e sensível.

Agradeço à Marcia Koiffman por existir (!!) e ser essa pessoa essencial, essa alma boa, esse sorriso de paz, esse olhar cúmplice. Obrigada por cada segundo de dedicação e por todas as horas de atenção e conselhos, que se seguiram no pós-parto.

Agradeço à minha querida instrutora de yoga, doula, amiga e mulher de fibra Katia Barga pelo olhar, pela confiança, pelo toque, pela palavra, pelo silêncio, pelos registros – todos no momento certo, da melhor maneira possível. Obrigada, minha querida, você mora no meu coração!

Agradeço ao meu companheiro incrível por embarcar comigo nesta grande aventura, que teve nessa experiência transformadora apenas o seu ponto de partida! Obrigada pela dedicação, pelo amor, pelo carinho e pelo apoio. Obrigada por superar junto comigo medos e ignorâncias e comprar essa briga juntos.

Obrigada, por fim, à minha princesa Isadora por me escolher como mãe, por me desafiar a ser melhor, por me ensinar a amar incondicionalmente, por perdoar meus defeitos e me acariciar a alma todos os dias com seu sorriso de gengivão, que agora já tem DOIS dentinhos!!! AMO-TE hoje e sempre e mais! Obrigada!




Daniele Moraes – 5 de maio de 2011 – exatos 8 meses depois.

31 de janeiro de 2011

Meu trabalho "pré parto"

Evidentemente, planejei retomar o Blog falando sobre o nascimento da minha princesa Isadora, mas cada vez que pensava em escrever desistia só de imaginar o tempo que precisaria para poder escrever o meu relato de parto. Enfim, tomei coragem de começar, vamos ver quantos dias levarei para finalizar este texto (foram 2 dias).

Para falar do parto da Isadora acho bacana começar contando como cheguei até a vontade de parir naturalmente. Como quase todas as mulheres da minha geração, fui bombardeada ao longo da vida por todo o tipo de imagem negativa de partos normais. Pela mídia, pela família, pela literatura, pelos médicos.

Na televisão, o parto é um evento de urgência, que em geral é puro sofrimento, angústia e motivo de muitas orações. Na família, relatos de partos sofridos (os poucos normais que ocorreram) e muitas cesáreas (que hoje sei se foram desnecessárias), com direito a muito sofrimento e dor no pós-parto. Na literatura, cansei de ler sobre a maternidade e cheguei até mesmo a um livro que defendia o procedimento cirúrgico como melhor opção para o nascimento. Em relação aos médicos, soube apenas recentemente que, por formação e conveniência, a grande maioria induz ou indica diretamente a cesárea para pacientes absolutamente saudáveis e capazes de parir.

Assim, a primeira vez que ouvi falar em parto humanizado, portanto, o assunto me soou completamente distante da minha realidade. Pareceu-me algo muito radical, sem sentido, coisa de mulheres que se acham melhores que as outras por que têm coragem de ter um parto sem anestesia, e se vangloriam disso. Gente sem noção que não dimensiona o risco que corre por uma espécie de capricho hippie. Juro mesmo. Eu tinha um pré-conceito totalmente formado.
Mesmo assim, passei a me informar sobre o tema, talvez por curiosidade de entender o que levava aquelas mulheres a desejar algo tão “ultrapassado”. Afinal, com tantos recursos e adventos da medicina, por que parir como nos séculos passados? Assim, fui conhecendo o discurso e o vocabulário relacionado ao mundo do “parto humanizado”, inicialmente, por pura curiosidade sociológica.
Li muitos relatos de parto e uma coisa me intrigava e me incomodava: o fato recorrente de médicos mentindo para pacientes para convencê-las de que “aquele caso” só a cesárea seria segura. Negando à suas pacientes, por formação deficitária, padrão cultural ou por pura conveniência financeira, a verdadeira oportunidade de decidir sobre o seu corpo, sua vida, seu parto, sua história. Aquilo me pegou. Sempre acreditei que as mulheres deveriam ter a opção de escolher como desejavam parir, mas percebi que nem isso lhes era garantido. E, iludida e inadvertidamente, só lhes restava a opção cirúrgica, muitas vezes realizada como “emergência”, mas marcada com 3 dias de antecedência...
Decidi, então, que não queria ser enganada. E comecei a compreender que para que isso de fato acontecesse seria preciso buscar um profissional verdadeira e reconhecidamente comprometido com a capacidade das mulheres de parir. Nesse caminho, logo perdi as esperanças de encontrar um profissional com tal conduta e que ao mesmo tempo atendesse a convênios médicos. Seria querer demais. Alguém disposto a passar horas e horas acompanhando uma paciente em trabalho de parto, desmarcando consultas, perdendo fins de semana, cancelando passeios e viagens para receber os honorários indignos pagos pelas seguradoras brasileiras.
Assim, já antes de engravidar, sabia que o caminho para um parto digno, fosse ele qual fosse, seria encontrar uma equipe de confiança, experiente e que me respeitasse como mulher. Pesquisei muito na internet e marquei uma consulta com um profissional que me pareceu seguir a linha que eu deseja. Consulta longa, muita conversa, muitas explicações, vídeos de parto. Naquela altura, o assunto “parto natural” ainda me dava muito medo. Medo da dor, do sofrimento, da recuperação, os ditos “estragos” causados pelo parto normal. Apenas uma coisa me fazia sentido, eu queria ter de verdade a oportunidade de ter um parto digno.

Meses depois, engravidei. Descobri na primeira semana de janeiro de 2010. Uma mistura imensa e intensa de alegria e pavor. Procurei o médico que eu havia conhecido e ele estava de férias, as secretárias não sabiam dizer quando ele voltaria, não quiseram me dar o celular. Eu começava a sentir alguns sintomas de mal estar e o tal “médico humanizado”, que tanto me prometeu no “primeiro encontro”, havia desaparecido na primeira necessidade. Fiquei insegura. Era minha primeira gestação e eu, que tanto tinha lido e acompanhado amigos e parentes grávidas, me vi um tanto perdida e sem saber o que fazer.

Nessa altura do campeonato, eu já havia conhecido e começado a participar de algumas listas de discussão por e-mail, ligadas ao parto humanizado, e, então, decidi escrever pedindo indicação de um profissional bacana. Uma pessoa muito querida me indicou a Dra. Andrea Campos. Confesso que, no início, quando soube que ela acompanhava partos domiciliares, achei que talvez ela fosse muito “naturalista” para mim. Ok, eu queria ter um parto normal, mas não me via parindo fora do ambiente “seguro” do Hospital, com direito a analgesia/ anestesia e toda a parafernália que eu tivesse direito.

Ainda assim, decidi conhecê-la. Se não gostasse, iria procurar outro profissional. O que eu não sabia é que é IMPOSSÍVEL não gostar da Andrea. Uma pessoa gentil, tranqüila, paciente, capacitada, doce, inteligente e muito, muito simpática. Na primeira consulta, fui com a minha irmã – que logicamente estava muito mais desconfiada daquela “médica meio bicho grilo” do que eu. Mas ela também sofreu o impacto do “não tem como não gostar da Andrea”. E saiu de lá achando muito bacana que eu tentasse o parto normal.

Daí em diante, a minha gravidez transcorreu muito tranquilamente. A calma e a gentileza da Andrea me deixavam muito segura e confiante. Em nenhum momento ela me pressionou, me aterrorizou, me deixou tensa. Sempre me explicava tudo com toda a paciência do mundo e sugeria as opções que considerava mais apropriadas para os eventuais percalços da gestação. Seguindo a linha antroposófica, da qual já havia me beneficiado na infância. (Veja como a vida é cíclica).

Durante toda a gravidez, participei dos encontros semanais de gestantes na Casa Moara, espaço dedicado ao atendimento humanizado relacionado ao nascimento – com atividades que vão desde yoga, fisioterapia, atendimento obstétrico, pediátrico, até encontros para gestante e mães. A cada semana eu aprendia algo novo, importante e, por vezes, inusitado. Assustava-me com a quantidade de informações desconhecidas que existem sobre o processo de nascimento. Coisas que TODAS as mulheres deveriam saber de cor e salteado. Aos poucos, centenas de tabus foram sendo desvendados, mitos derrubados, pré-conceitos desfeitos – tudo na base da informação, do questionamento e das experiências vividas por profissionais muito capacitados que emprestam, de bom grado, seu conhecimento a quem se interessar em aprender.

Pouco a pouco, fui desconstruindo dentro de mim o conceito de sofrimento no parto. Mas tinha medo da dor. Porém descobri que o medo é natural e que lidar com ele é a melhor maneira de enfrentá-lo. Preparei-me, li, busquei os melhores profissionais. Por que para mim era essencial saber, conhecer o processo que estava por vir para me sentir tranquila, segura e confiante. E assim tudo aconteceu.

Não posso deixar de citar também a importância das aulas de Yoga para gestantes. Foram fundamentais. Primeiramente, para me manter focada nos meus objetivos, conectada com a minha filha, centrada na capacidade do meu corpo de formar e colocar no mundo a minha princesa. E, principalmente, por que a minha querida professora, Kátia Barga, aceitou ser a minha doula e esse contato semanal, trocando informações, impressões e nos conhecendo profundamente foram determinantes e essenciais para que tudo tenha sido tão perfeito.

A Katia sempre acreditou em mim, na minha capacidade de parir e foi quem mais me passou segurança para acreditar que eu não necessitaria de analgesia. Eu pensava: como é que essa mulher sabe se eu vou aguentar? Rsrsrs. Pois é, ela sabia.

Hoje sei que o meu processo “pré-parto” me fez resgatar a minha essência feminina, retomar o contato com a minha força natural e ter a convicção de que, se eu havia sido capaz de gerar um bebê, era evidente que tinha todas as condições necessárias para colocá-lo no mundo! A sabedoria e a perfeição da natureza não podiam mais ser contestadas.

No próximo post, vou falar efetivamente sobre o parto da Isadora.

E ainda volto para explicar por que “uma mulher moderna decide ter um filho naturalmente”, diante de tantos “recursos” disponíveis nos dias de hoje...
Volto para falar sobre a vida pós-parto, para a qual não inventaram analgesia, mas que pode doer muito mais que o parto em si...

Volto para falar sobre a amamentação, percalços e a importância de termos informação, apoio de quem entende do assunto, do companheiro, da família e confiança na nossa capacidade de nutrir os filhos...

Volto para falar do amor impossível de mensurar que “invadiu o meu coração e de repente me encheu de paz”...

Volto para falar sobre os maravilhosos encontros pós-parto, o Cinematerna e a importância de dividir esses momentos tão intensos com quem viveu ou está vivendo a mesma coisa...

Volto para falar sobre a angústia da volta ao trabalho e o impacto desse momento...

E voltarei inúmeras vezes mais, pois assunto é o que não falta!!!