11 de outubro de 2007

Ao mestre com carinho ...

Sempre me senti envergonhada por saber tão pouco sobre ele. Cada vez que descobria um novo livro, tese, artigo, outro amigo ilustre (e intelectual), sentia-me mais inconformada com minha ignorância. Por isso, de certa forma, o texto que hoje publico aqui será para mim uma forma de humilde redenção.

O texto a seguir foi escrito originalmente para o Portal da CONTEE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino), onde trabalho atualmente, em função da comemoração do Dia do Professor. E, por isso, não poderia deixar de citar nesta história um personagem importante dela: o professor Alfredo Gomes, meu avô.

Cresci ouvindo dizer que ele havia sido um grande educador, professor renomado, escritor brilhante. Nome de rua e escola em São Paulo e dono de uma biblioteca particular imensa – da qual herdamos uma parte, que meus olhos de criança achavam sem fim. Sei também que recebeu uma merecida homenagem, já doente, no dia em que tomou posse da cadeira 38 da Academia Paulista de Letras. Desta ocasião temos uma foto linda e feliz, que prometo mostrar em breve por aqui.

Também sobre ele, ouvia na infância coisa que me causava grande estranheza: a exposição de seu “busto” como peça do acervo permanente da Pinacoteca do Estado. Tenho, até hoje, poucas informações e algumas impressões nebulosas sobre esse homem, em que ora me identifico no olhar “bravo” da família.

Mas de todas as histórias a que mais me comoveu foi um “recado especial” que recebi de um colega dele: o escritor Paulo Bomfim, agora com 80 anos. Talvez o contato – ainda que indireto – mais profundo que tivemos. Ao redigir-me uma dedicatória no lançamento de seu último livro, escreveu: “Para Daniele, entre a saudade e a esperança. Paulo”.

Por isso, mais do que um breve resgate histórico de algumas origens, fica o registro pessoal do meu carinho e admiração, vovô.

Um beijo da sua neta!


Dia do professor: a história da comemoração

Por Daniele Moraes

Comemorado mundialmente no dia 5 de outubro, no Brasil o “Dia do Professor” é festejado em 15 de outubro. Instituído nacionalmente por meio do decreto Nº 52682, assinado pelo então Presidente da República João Goulart, em 1963, a data já era comemorada havia muito tempo. O primeiro registro histórico da celebração dada de 14 de maio de 1930, quando a III Semana da Educação, realizada na cidade de Bragança Paulista (interior de São Paulo), institui em seu programa de atividades o “Dia da Escola”.

Apesar da longa história em torno do Dia do Professor, poucos conhecem a origem desta homenagem e tão pouco as razões da definição da data. Tudo começou nos anos 30, quando diversas iniciativas foram tomadas por grupos de professores católicos. Comemorações como a festa do “Nosso primeiro Mestre”, lançada pela Associação de Professores Católicos do Distrito Federal (então, no Rio de Janeiro) ou o “Dia da Mestra”, instituído também no Rio pelo Departamento de Ensino Primário.

O 15 de outubro foi escolhido originalmente por ser a data evocatória de Santa Tereza d’Ávila. A santa, nascida em Ávila, na Espanha, e falecida em 1582, foi associada aos docentes por serem em sua maioria mulheres (e católicas). Além disso, Tereza d’Ávila também era conhecida pela notável inteligência, comparada, em seu tempo, a dos doutores da Igreja, e reconhecida por títulos religiosos e como “Padroeira dos Professores”.

No início da década de 30, as primeiras comemorações já aconteciam, mas sem grande repercussão, quando, em artigo publicado no “Jornal de São Paulo” (de 10 de outubro de 1946), o professor Alfredo Gomes (ex-presidente da Associação Paulista de Professores Secundários e da Sociedade Beneficente de Professores e Auxiliares de Administração e também diretor de entidades de classe como a União de Professores de Educação e Ensino e Associação Paulista de Educação) lança a Campanha pela oficialização do “Dia do Professor” a 15 de outubro, no Estado de São Paulo.

A Campanha esclarecia que, além da associação religiosa, a data possuía riqueza histórica. Afinal pode-se dizer que neste dia foi instituído o ensino público no Brasil, por decreto Imperial de D. Pedro I, em 1827. O referido documento assinado pelo Imperador ordenava a criação de escolas de “primeiras letras” (alfabetização) em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do Império.

Em 1947, formou-se, então, a “Comissão Pró-Oficialização do Dia do Professor”, com intensa atividade de mobilização no Ministério da Educação, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo e na Secretaria de Educação. Em 13 de outubro de 1948, o Projeto foi transformado na Lei estadual nº 174.

A conquista paulista correu o País e quase todos os Estados aprovaram leis instituindo o feriado escolar do Dia do Professor em 15 de outubro. A partir daí, iniciou-se o trabalho pelo reconhecimento nacional da homenagem, por meio de decreto federal.

Em um trecho do Memorial enviado ao Ministro da Educação, solicitando a declaração de feriado escolar nacional, o professor Alfredo Gomes argumentou: “Se o professor é o generoso semeador de idéias que permitem o conhecimento da vida e acendem, no espírito, o sagrado fogo da esperança; se ele é quem faz e estimula vontades e caracteres; se é ele fator primacial na formação moral e intelectual das novas gerações, torna-se elementar ato de justiça e reconhecimento, homenagear sua missão pelo muito que representa para a Cultura e para a própria Nacionalidade”.

Finalmente, apenas em 14 de outubro de 1963, a data foi reconhecida nacionalmente. Passados quase 60 anos da primeira Lei estadual que instituiu a comemoração, podemos notar que o sentimento que motivou grandes educadores a lutar pelo reconhecimento do professor guarda incríveis semelhanças com as lutas atuais, sempre no anseio de contribuir com o desenvolvimento e o fortalecimento do Brasil.

Destacando seu idealismo, em ofício enviado ao Presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, o professor Alfredo Gomes exalta novamente a docência, refletindo: “Que é o professor, senão símbolo, senão exemplo? Símbolo da abnegação, exemplo de vocação humanitária! Símbolo da renúncia, exemplo da paciência! Símbolo do sacrifício, exemplo de heroísmo! Símbolo de amor, exemplo de consciência! Símbolo do sentimento, exemplo de idéias! Símbolo tranqüilo, exemplo de modéstia! (...) Benfeitor de gerações que se sucedem, da pátria que prospera, da humanidade que segue seu destino em busca de felicidade!”.

Hoje, quando enfrentamos tantas adversidades e quando nos deparamos com quantos desafios e dificuldades, é reconfortante conhecer essa história, que resgata o orgulho do profissional e ressalta o valor individual de cada trabalhador e a força coletiva de nossos educadores. A luta é árdua, mas o legado é inestimável.

9 comentários:

Anônimo disse...

Alguns momentos acontecem na nossa vida com se fossem rasgos de emoção dentro da nossa rotina turbulenta!!!
Após ler este texto, sinto-me assim rasgada, como se parte de mim pedisse clemência por sentir a vida intensamente !!!
Que bom ter um exemplo como meu avô e que bom ter um exemplo como minha irmã!!!
Ambos se confudem e se fundem como referências de um caminhar que quero ensinar aos meus filhos, onde a dignidade e os valores estão acima de tudo!!!
Obrigado vovô...obrigado maninha!!!
Carol

Galáxia de meus anseios disse...

Filha, o silêncio de profundo sentimento, apodera-se de mim, tentando calar-me as palavras. As lágrimas, escorrendo pelas minhas faces, ao ler seu testemunho, fazem crer, definitivamente, que o espírito, transcede a matéria. Os afins, harmonizam-se, em Plano Superior. Você permitiu deixar fluir a verdadeira essência de seu puro coração. Bendito adubo, que se dispôs receber, bendita sejas! Obrigada, minha querida criança crescida, maturando, dia a dia, sua sensibilidade, exercendo uma linda simbiose entre emoção e razão, no aconchego carinhoso, puro e verdadeiro de seus escritos. Hoje, seu avô, pode ter certeza, está enviando-lhe olhar agradecido, manso, satisfeito ,esperançoso,ao ver surgir , após os suores pelos quais passou em seus plantios, inclusive, jornalísticos, um fruto que começa , sadiamente, despontar! Obrigada, querida, por este lindo presente que a êle ofertou: a saudade ,guarde-a no coração, mas a esperança, espalhe-a pelo mundo. Sua mãe , que te ama, Nilce Helena.

Anônimo disse...

Lindo texto!!!!!!
A mente notável e a mão sempre inspirada do avô Alfredo Gomes, com certeza, estão agora dentro da minha linda e maravilhosa esposa! Parabéns pela luz que sai de seus textos! Te amo!!!!

Daniele Moraes disse...

Agora é a minha vez de chorar ... E agradecer, meu Deus, por tanto amor!!
Com uma mãe, uma irmã e um marido assim, quem aguenta??
OBRIGADA AMADOS MEUS!!!

Anônimo disse...

Dani, Foi bom você ter falado sobre o texto.Vim conferir.E sem dúvida, é excelente!

Combinam um equilíbrio preciso de homenagem,gratidão,resgate e valorização do professor e ao mesmo tempo marcando um "re-encontro" com avô.

Fazendo uma justiça histórica através do texto, tornando conhecido o que o tempo e a memória apagaram para a maioria.

Parabéns além da sua família aqui, seu avô deve estar orgulhoso de você !! rsrsr...

E ... vá em frente você tem talento !!

Você vai longe!!!

Um grande abraço!!

PapocomCecilia disse...

Daniele

As águas do passado fertilizam o presente. Parabéns pelo seu blog.

Cecília França

Anônimo disse...

Dani,

Belíssima homenagem, pelo que representa e pelo texto que a emoldura. Nem poderia ser diferente, pois não há nada melhor que as coisas escritas pelo coração...

Parabéns!

Beijos

Anônimo disse...

P.S.: Você tinha razão: depois disso, Campo Grande é fichinha...

Daniele Moraes disse...

Um beijo grande a cada amigo querido que passou por aqui!

Plínio,
Obrigada pelo carinho de SEMPRE e pela presença e incentivo CONSTANTES!! Você é muuuuito especial!

******************

Cecília,
Muito obrigada pela visita e comentário. Estarei sempre de olho no seu Blog tb. Um beijo grande!

******************

Ro,
Você tem toda a razão. O coração é nosso maior instrumento. Obrigada pela generosidade e o carinho de sempre.

PS: Não falei que CG era babata!? Hehehe ...
PS2: O proximo post será sobre o "Tropa de Elite". Mas tá dificil concluir e organizar todas as reflexões que ele me trouxe. Bjs