26 de agosto de 2010

38 semanas + 3 dias - reflexões


Ontem eu disse que voltaria para falar da “expectativa do parto – impressões, certezas e a convivência com o imponderável”. Portanto, para começar, acho que vale dizer o quanto me causa estranheza em nossa sociedade o fato de que a maioria das mulheres abriu mão da autonomia e da confiança em seu próprio corpo, depositando voluntariamente em terceiros responsabilidades por decisões absolutamente pessoais e intransferíveis.

Digo isso, pois a regra nos dias de hoje é encarar o final da gestação como um verdadeiro martírio. Reclamar de dores, incômodos, cansaço. Tem isso? Tem. Mas é ao mesmo tempo um momento tão incrível, que me impressiona as mulheres não aproveitarem esse processo transformador. Reclamam e se convencem de que não é preciso passar por tal “tormento”. Agendam suas cirurgias eletivas, sem pestanejar e sem nem ao menos conhecer as possíveis consequencias dessa decisão.

E é aqui que eu chego ao ponto da tal “convivência com o imponderável”. Porque esperar pelo nascimento natural de um bebê é uma lição fundamental sobre a nossa incapacidade de controlar os acontecimentos de vida. E que lição!! É assustador, mas ao mesmo tempo fascinante se entregar, deixar que tudo aconteça no ritmo ditado pelo universo, pelas nossas escolhas intelectuais e espirituais e pelas escolhas dos nossos filhos.

Afinal, se alguém passa pela experiência da maternidade sem descobrir essas nuances, talvez não tenha compreendido muito bem essa função/ missão. Aí, neste caso, não se “tem filhos”, se “procria”. E segue-se na toada inconsciente da preservação da espécie. Você pode questionar: e há evolução nesse processo? Claro que sim. Mas é compulsória. Para mim, o mérito está na busca CONSCIENTE pelo caminho a percorrer. E nesse processo a escolha pela não interferência no momento do nascimento de seu filho é um ponto de partida importante e, acima de tudo, a primeira e grande oportunidade de aprendizado evolutivo que a maternidade pode te proporcionar.

Dito isso, vale registrar que essa escolha tem um preço – muito alto no Brasil. Que começa pela necessidade de não aceitar as informações hegemônicas e isso é um tanto inerente à personalidade de cada um. Para mim foi fácil. Eu não me contento mesmo com os “pacotes fechados”. Quero sempre saber de onde eles vêm e, especialmente, por quem foram embalados. E isso aconteceu naturalmente em minha vida, nas escolhas ideológicas, espirituais, no pensamento político, nas opções afetivas, na forma de ver e levar a vida.

O caminho “mais fácil”, aquele que não exige reflexão, ponderação, análises e informações não basta para mim. Eu quero sempre mais. Nem que seja para errar, mas para errar com gosto, com vontade, sem chance de delegar a outros o peso das minhas frustrações. Isso é tão difícil, mas é tão bom! Recomendo uma dose diária para quem quiser provar.

Assim, diante da minha incapacidade de executar algumas ações “em piloto automático”, cheguei às escolhas que me trouxeram até o dia de hoje, com a certeza de que: estou cercada de informações e dados suficientes para buscar o meu caminho; amparada por profissionais competentes e AMOROSOS, que foram e serão sempre essenciais nesse processo; e certa de que, tenha o desfecho que tiver, estarei plenamente satisfeita e feliz.

É preciso mais? Não para mim.


OBS:
O calor e o tempo seco estão de matar!!! Tenho buscado me hidratar bastante e manter o nariz umedecido – para evitar complicações da rinite. Mas o bicho tá pegando. Com isso, a poluição paulistana faz seus estragos e sofro desde já pelas futuras gerações. As BH (contrações de Baxtron Hicks) estão cada dia mais frequentes e longas.

Ah! Hoje redigi o meu Plano de Parto. Quer dizer, registrei alguns desejos e orientações para a hora H, ou hora P, como dizem. Estou contente por não precisar mencionar intervenções indesejadas e procedimentos desnecessários. É tão bom estar segura das minhas escolhas, começando pela equipe LINDA que vai estar ao meu lado, e poder confiar, sabendo que a mim só restará a entrega, em mente e coração.

Neste sentido, deixo abaixo uma frase incrível da parteira Ana Cristina Duarte, que tenho mentalizado como um mantra:

"O parto acontece dentro da cabeça e dentro do coração. Da cintura pra baixo, esse processo é natural. Apenas haverá impedimento, se a minha cabeça ou o meu coração não permitir".

4 comentários:

Lelê Fagundes disse...

Que lindo, Dani!
Amei o texto e espero que quando a minha vez chegar eu seja tão consciente quanto você.

Parabéns por escolher escolher. :)
beijos

Kalu disse...

Dani,

Vc não imagina como fiquei feliz ao me deparar com seu texto. Sempre que vejo uma conhecida grávida, ainda mais de finalzinho, penso? Outra cesárea, outro bebê nascendo antesda hora.

Há 3 anos escrevo 2 vezes por semana sobre o tema. Provoco, entro em debates lá no www.blogmamiferas.com.br. Ma a maternidade ativa transformou minha vida. E não termina no parto.

Força querida. Vi que vc conhece a Drika, deve estar com uma linda equipe da humanização. esse finalzinho cansa pela palpitaria. Mas é um treino. Espere até o bebê nascer.

Se precisar de dicas ou qqr coisa, lembre-se de mim.

Daniele Moraes disse...

Lelê, querida!! Super obrigada! Tenho certeza de que será, até mais! É que não é uma escolha ... hehehe ... é um caminho certo que não tem muita opção para quem se aproxima dele!!! Bjão!!


Kalu,
Obrigada pela visita! Sempre acompanho o Blog Mamíferas! É muito legal!! Parabéns pelo trabalho!!! Obrigada tb pelas boas vibrações, em breve eu volto com o relato de parto! Bjão

Galáxia de meus anseios disse...

Filhota que linda imagem de reflexão e de entrega..."Que seja feita a Tua Vontade assim na terra como nos céus"!!!E será!!! Te tornarás jardineira, que linda missão: "Bendito o Fruto de Vosso Ventre..."! Amém. Beijos e muita Luz!Mamy.