31 de janeiro de 2011

Meu trabalho "pré parto"

Evidentemente, planejei retomar o Blog falando sobre o nascimento da minha princesa Isadora, mas cada vez que pensava em escrever desistia só de imaginar o tempo que precisaria para poder escrever o meu relato de parto. Enfim, tomei coragem de começar, vamos ver quantos dias levarei para finalizar este texto (foram 2 dias).

Para falar do parto da Isadora acho bacana começar contando como cheguei até a vontade de parir naturalmente. Como quase todas as mulheres da minha geração, fui bombardeada ao longo da vida por todo o tipo de imagem negativa de partos normais. Pela mídia, pela família, pela literatura, pelos médicos.

Na televisão, o parto é um evento de urgência, que em geral é puro sofrimento, angústia e motivo de muitas orações. Na família, relatos de partos sofridos (os poucos normais que ocorreram) e muitas cesáreas (que hoje sei se foram desnecessárias), com direito a muito sofrimento e dor no pós-parto. Na literatura, cansei de ler sobre a maternidade e cheguei até mesmo a um livro que defendia o procedimento cirúrgico como melhor opção para o nascimento. Em relação aos médicos, soube apenas recentemente que, por formação e conveniência, a grande maioria induz ou indica diretamente a cesárea para pacientes absolutamente saudáveis e capazes de parir.

Assim, a primeira vez que ouvi falar em parto humanizado, portanto, o assunto me soou completamente distante da minha realidade. Pareceu-me algo muito radical, sem sentido, coisa de mulheres que se acham melhores que as outras por que têm coragem de ter um parto sem anestesia, e se vangloriam disso. Gente sem noção que não dimensiona o risco que corre por uma espécie de capricho hippie. Juro mesmo. Eu tinha um pré-conceito totalmente formado.
Mesmo assim, passei a me informar sobre o tema, talvez por curiosidade de entender o que levava aquelas mulheres a desejar algo tão “ultrapassado”. Afinal, com tantos recursos e adventos da medicina, por que parir como nos séculos passados? Assim, fui conhecendo o discurso e o vocabulário relacionado ao mundo do “parto humanizado”, inicialmente, por pura curiosidade sociológica.
Li muitos relatos de parto e uma coisa me intrigava e me incomodava: o fato recorrente de médicos mentindo para pacientes para convencê-las de que “aquele caso” só a cesárea seria segura. Negando à suas pacientes, por formação deficitária, padrão cultural ou por pura conveniência financeira, a verdadeira oportunidade de decidir sobre o seu corpo, sua vida, seu parto, sua história. Aquilo me pegou. Sempre acreditei que as mulheres deveriam ter a opção de escolher como desejavam parir, mas percebi que nem isso lhes era garantido. E, iludida e inadvertidamente, só lhes restava a opção cirúrgica, muitas vezes realizada como “emergência”, mas marcada com 3 dias de antecedência...
Decidi, então, que não queria ser enganada. E comecei a compreender que para que isso de fato acontecesse seria preciso buscar um profissional verdadeira e reconhecidamente comprometido com a capacidade das mulheres de parir. Nesse caminho, logo perdi as esperanças de encontrar um profissional com tal conduta e que ao mesmo tempo atendesse a convênios médicos. Seria querer demais. Alguém disposto a passar horas e horas acompanhando uma paciente em trabalho de parto, desmarcando consultas, perdendo fins de semana, cancelando passeios e viagens para receber os honorários indignos pagos pelas seguradoras brasileiras.
Assim, já antes de engravidar, sabia que o caminho para um parto digno, fosse ele qual fosse, seria encontrar uma equipe de confiança, experiente e que me respeitasse como mulher. Pesquisei muito na internet e marquei uma consulta com um profissional que me pareceu seguir a linha que eu deseja. Consulta longa, muita conversa, muitas explicações, vídeos de parto. Naquela altura, o assunto “parto natural” ainda me dava muito medo. Medo da dor, do sofrimento, da recuperação, os ditos “estragos” causados pelo parto normal. Apenas uma coisa me fazia sentido, eu queria ter de verdade a oportunidade de ter um parto digno.

Meses depois, engravidei. Descobri na primeira semana de janeiro de 2010. Uma mistura imensa e intensa de alegria e pavor. Procurei o médico que eu havia conhecido e ele estava de férias, as secretárias não sabiam dizer quando ele voltaria, não quiseram me dar o celular. Eu começava a sentir alguns sintomas de mal estar e o tal “médico humanizado”, que tanto me prometeu no “primeiro encontro”, havia desaparecido na primeira necessidade. Fiquei insegura. Era minha primeira gestação e eu, que tanto tinha lido e acompanhado amigos e parentes grávidas, me vi um tanto perdida e sem saber o que fazer.

Nessa altura do campeonato, eu já havia conhecido e começado a participar de algumas listas de discussão por e-mail, ligadas ao parto humanizado, e, então, decidi escrever pedindo indicação de um profissional bacana. Uma pessoa muito querida me indicou a Dra. Andrea Campos. Confesso que, no início, quando soube que ela acompanhava partos domiciliares, achei que talvez ela fosse muito “naturalista” para mim. Ok, eu queria ter um parto normal, mas não me via parindo fora do ambiente “seguro” do Hospital, com direito a analgesia/ anestesia e toda a parafernália que eu tivesse direito.

Ainda assim, decidi conhecê-la. Se não gostasse, iria procurar outro profissional. O que eu não sabia é que é IMPOSSÍVEL não gostar da Andrea. Uma pessoa gentil, tranqüila, paciente, capacitada, doce, inteligente e muito, muito simpática. Na primeira consulta, fui com a minha irmã – que logicamente estava muito mais desconfiada daquela “médica meio bicho grilo” do que eu. Mas ela também sofreu o impacto do “não tem como não gostar da Andrea”. E saiu de lá achando muito bacana que eu tentasse o parto normal.

Daí em diante, a minha gravidez transcorreu muito tranquilamente. A calma e a gentileza da Andrea me deixavam muito segura e confiante. Em nenhum momento ela me pressionou, me aterrorizou, me deixou tensa. Sempre me explicava tudo com toda a paciência do mundo e sugeria as opções que considerava mais apropriadas para os eventuais percalços da gestação. Seguindo a linha antroposófica, da qual já havia me beneficiado na infância. (Veja como a vida é cíclica).

Durante toda a gravidez, participei dos encontros semanais de gestantes na Casa Moara, espaço dedicado ao atendimento humanizado relacionado ao nascimento – com atividades que vão desde yoga, fisioterapia, atendimento obstétrico, pediátrico, até encontros para gestante e mães. A cada semana eu aprendia algo novo, importante e, por vezes, inusitado. Assustava-me com a quantidade de informações desconhecidas que existem sobre o processo de nascimento. Coisas que TODAS as mulheres deveriam saber de cor e salteado. Aos poucos, centenas de tabus foram sendo desvendados, mitos derrubados, pré-conceitos desfeitos – tudo na base da informação, do questionamento e das experiências vividas por profissionais muito capacitados que emprestam, de bom grado, seu conhecimento a quem se interessar em aprender.

Pouco a pouco, fui desconstruindo dentro de mim o conceito de sofrimento no parto. Mas tinha medo da dor. Porém descobri que o medo é natural e que lidar com ele é a melhor maneira de enfrentá-lo. Preparei-me, li, busquei os melhores profissionais. Por que para mim era essencial saber, conhecer o processo que estava por vir para me sentir tranquila, segura e confiante. E assim tudo aconteceu.

Não posso deixar de citar também a importância das aulas de Yoga para gestantes. Foram fundamentais. Primeiramente, para me manter focada nos meus objetivos, conectada com a minha filha, centrada na capacidade do meu corpo de formar e colocar no mundo a minha princesa. E, principalmente, por que a minha querida professora, Kátia Barga, aceitou ser a minha doula e esse contato semanal, trocando informações, impressões e nos conhecendo profundamente foram determinantes e essenciais para que tudo tenha sido tão perfeito.

A Katia sempre acreditou em mim, na minha capacidade de parir e foi quem mais me passou segurança para acreditar que eu não necessitaria de analgesia. Eu pensava: como é que essa mulher sabe se eu vou aguentar? Rsrsrs. Pois é, ela sabia.

Hoje sei que o meu processo “pré-parto” me fez resgatar a minha essência feminina, retomar o contato com a minha força natural e ter a convicção de que, se eu havia sido capaz de gerar um bebê, era evidente que tinha todas as condições necessárias para colocá-lo no mundo! A sabedoria e a perfeição da natureza não podiam mais ser contestadas.

No próximo post, vou falar efetivamente sobre o parto da Isadora.

E ainda volto para explicar por que “uma mulher moderna decide ter um filho naturalmente”, diante de tantos “recursos” disponíveis nos dias de hoje...
Volto para falar sobre a vida pós-parto, para a qual não inventaram analgesia, mas que pode doer muito mais que o parto em si...

Volto para falar sobre a amamentação, percalços e a importância de termos informação, apoio de quem entende do assunto, do companheiro, da família e confiança na nossa capacidade de nutrir os filhos...

Volto para falar do amor impossível de mensurar que “invadiu o meu coração e de repente me encheu de paz”...

Volto para falar sobre os maravilhosos encontros pós-parto, o Cinematerna e a importância de dividir esses momentos tão intensos com quem viveu ou está vivendo a mesma coisa...

Volto para falar sobre a angústia da volta ao trabalho e o impacto desse momento...

E voltarei inúmeras vezes mais, pois assunto é o que não falta!!!

3 comentários:

tatihelene disse...

Dani adorei o seu post, estou esperando os próximos!
É realmente chocante a desinformação em relação ao parto natural e a cesariana. Pra vc ter uma idéia ter um filho na minha carreira é uma coisa bem complicada porque significa muito tempo longe do trabalho, de um trabalho que precisa estar sempre mostrando a cara para arrumar o próximo trabalho, ou seja uma coisa que tem que ser muito planejada, se o parto for uma cesariana o tempo médio para o corpo voltar a funcionar como antes (se voltar) é de no mínimo 2 anos, porque devido o corte de toda a musculatura abdominal (a mesma usada para cantar) a recuperação desses movimentos é muito lenta, já com o parto natural muitas cantoras conseguem voltar em menos de 6 meses do parto sem ter nenhuma diferença na sua qualidade sonora.
Beijocas

Galáxia de meus anseios disse...

Querida, entrei várias vezes aqui, aguardando ansiosa sua escrita, sempre tão bem sintéticas e tranquilas de se entender, o que acho qualidade sine qua non para jornalistas...hum..sou suspeita? Talvez, mas você faz jus ao elogio.Hoje, finalmente, encontro este artigo fantástico, assim chamarei esta postagem, é artigo, digno de ser publicado para que outras mulheres sejam informadas, principalmente, nesta época contemporanea na qual a mulher torna-se dia a dia mais dona de sí, seja o corpo, a mente e o espírito. Antigamente, não havia opção e isso fez com que as mulheres "aceitassem" o parto natural, não como escolha, mas por que era assim e pronto. Da forma que você colocou valoriza a mulher, principalmente quanto ao seu sagrado corpo, o que nós mulheres queremos fazer dele ou com ele? Que herança maravilhosa você está deixando para sua filha Isadora, a mãe que pariu com feliz consciência. Emocionei-me, várias vezes, e ao mesmo tempo fiquei séria na profundidade do assunto. Você deixou nesta primeira abordagem, o porque rezamos com tanto gosto a Ave Maria. Bendita sejas, mãezinha de dorinha.Te amo.Beijos Mamy Obrigada!!!

Katia Barga disse...

que lindo esse relato pre parto! linso como o relato de parto! vou ter que coloca-los juntos, indispensavel!
beijos
katia Barga (é, a do post!)