1 de fevereiro de 2012

O parto possível

Quando comecei a me interessar pelo assunto “parto” eu tinha convicção de que essa era uma escolha da mulher. A ela deveria ser dada autonomia e informação necessárias para que decidisse. Ainda acho isso. Entretanto, o que eu não suspeitava era que o poder de escolha das mulheres na atualidade fosse praticamente nulo. Uma vez que a maioria é levada a crer que está no comando da situação, quando na verdade já tem destino certo: a cesariana.
Nunca é demais ressaltar que o parto cesáreo foi uma importante conquista da humanidade, impedimento de muitas perdas de mães e bebês. Estamos tratando aqui, no entanto, da banalização deste procedimento (invasivo e arriscado), por sua realização desnecessária – baseada em indicações equivocadas ou conveniência. Estamos discutindo o fato de aproximadamente 90% dos nascimentos em hospitais particulares da capital paulista, por exemplo, serem realizados por parto cirúrgico. Isto não é razoável nem compreensível, não é mesmo?

Acima de tudo, o que me levou a conhecer o movimento de humanização de atendimento ao parto foi a minha indignação diante das dezenas e dezenas de relatos de parto que li na internet em que as mulheres contavam as justificativas dadas por médicos “respeitabilíssimos” para a indicação da cesariana. Vi, lendo e relendo essas histórias repetidamente, que as mulheres são constantemente enganadas, trapaceadas e cerceadas, de maneira vil, do direito maior sobre seu próprio corpo. São levadas a crer na sua incapacidade de colocar no mundo os filhos que elas geraram. E isso é muito triste.

Assim, comecei a pesquisar. Queria saber quando de fato uma cesárea é necessária. Entre tantas histórias, descobri, por exemplo, que circular de cordão (cordão umbilical enrolado no pescoço do bebê) não impede o parto normal; que diabetes gestacional também não; que “bebês grandes” menos ainda; e que todas as mulheres “têm dilatação” – o que não se tem é habilidade, paciência e desejo de esperar pelo processo fisiológico e, não patológico, de dar à luz. Assim, muita gente é manipulada e levada a acreditar que escolheram o melhor para si e para seu bebê – o que em muitos e muitos casos não é verdade.

Grande parte dos médicos obstetras brasileiros, por má formação, limitação cultural ou em alguns casos até má fé, não está preparada para acompanhar um parto normal nem convencida do grave problema que é a banalização da cesariana.

Portanto, se você está grávida, deseja um parto normal e tem dúvidas sobre a conduta do seu médico, não hesite! Procure se informar sobre a taxa de partos normais atendidos por ele. Questione se tem “um dia exclusivo para cirurgia” na agenda semanal do consultório. Converse sobre o tipo de parto que você deseja (o profissional não pode negar-se a tratar do assunto). E por fim tenha consciência de que “parto normal” não é tudo. Há que ser humanizado – acima de qualquer coisa (Sobre isso leia: Humanizado ou não, eis a questão).

Hoje tenho convicção total de que há muito a ser modificado na sociedade brasileira e até mesmo no meio acadêmico – em relação à formação médica – para que a mulher de fato possa dizer-se dona de seu próprio corpo e responsável consciente de suas escolhas. Até lá o que nos resta é tentar buscar atalhos para que conosco seja diferente e alertar para essa realidade, informar, replicar e sempre dizer: o parto normal é possível, sim! Mas, se você quiser, terá que lutar por ele. De minha parte garanto: vai valer a pena! Mulher nenhuma deveria privar-se de viver essa experiência absolutamente deliciosa e avassaladora.

(Publicado originalmente no Blog Papo de Berçário - dia 01/02/2012)

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